BREVE ANÁLISE DA SÉRIE "QUANDO A JERUSALÉM ANTIGA FOI DESTRUÍDA?"
(série publicada em A Sentinela, 01/10/2011 e 01/11/2011)

SUMÁRIO

Introdução

1. Visão geral dos dois artigos e o seu principal erudito

Consideração da Parte 1

2. Os setenta anos de Babilônia

3. A base que existe para o ano 587 a.C.

4. A desolação de Jerusalém e os Setenta Anos

Consideração da Parte 2

5. Comentando as evidências arqueológicas

6. Simulações astronômicas da VAT 4956 (atualização em 21/02/12)

Conclusão

7. O verdadeiro motivo porque não abandonam o ano 607 a.C.

Apêndice:

A. As Bíblias Impressas pela Torre de Vigia que Traduzem Corretamente Jeremias 29:10

B. O ano de 609 a.C foi o Início dos Setenta anos de Babilônia Segundo os Historiadores

C. Noções de Arqueoastronomia, Linguagem dos Diários Astronômicos e os Calendários

D. Respostas dos Eruditos Citados na Série "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?" (PDF, 1.20 Mb)

E. Resposta a um Leitor - Referente à Série "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?"

 

A menos que haja outra indicação, a tradução da Bíblia utilizada neste trabalho é a "Tradução do Novo Mundo".

 

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INTRODUÇÃO

1. Visão geral dos dois artigos e o seu principal erudito

A organização da Torre de Vigia ("Testemunhas de Jeová") publicou na revista A Sentinela uma série de dois artigos com proposta erudita para defender sua cronologia, segundo a qual Jerusalém teria sido destruída pelos babilônios em 607 a.C. e não em 587 a.C., como atestam os livros de história. Está nas Sentinelas de 1º de outubro e 1º de novembro de 2011. Ela discorre sobre história, astronomia e tabuinhas cuneiformes em dois textos atraentes e bem escritos.

O objetivo desse esforço em contradizer uma data bem estabelecida tem a ver com um ensino de sua escatologia, chamado de "sete tempos dos gentios", que também já foi defendido por adventistas do século XIX. A Torre de Vigia ensina que um período profético de 2.520 anos terminou no ano de 1914 d.C., e que o início dessa contagem começou no ano da primeira destruição de Jerusalém. Portanto, para se chegar ao ano de 1914 é necessário que Jerusalém tenha sido destruída em 607 a.C. Para mais detalhes, leia a conclusão desta análise, que está dividida em sete partes, fora as seções do apêndice.

Visão geral dos dois artigos

No primeiro artigo, pela primeira vez a Torre de Vigia menciona que, de acordo com a "cronologia secular" e algumas traduções da Bíblia (talvez a maioria delas), os 70 anos de Jeremias 29:10 se referem ao domínio de Babilônia sobre as nações e não ao exílio dos judeus em Babilônia. Realmente, os historiadores dizem que a hegemonia babilônica durou exatos 70 anos (609-539 a.C.), conforme predito na Bíblia:

1. “Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos.” – Jeremias 25:11.

2. “Somente quando os setenta anos concedidos ao rei de Babilônia acabarem, é que eu vos visitarei e cumprirei minha promessa em vosso favor por trazer-vos de volta a este lugar.” – Jeremias 29:10, Jerusalem Bible.

3.Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”, diz O SENHOR. – Jeremias 25:12, Nova Versão Internacional.

4. “Os assírios foram definitivamente derrotadas [por Babilônia] em 609 a.C. e a Assíria desapareceu da história.” – Dicionário Bíblico, de John L. Mackenzie, 2001, Ed. Paulus, p. 90, colchetes acrescentados.

5. “[Deus] se refreou de agir até o seu devido tempo.... em 539 AEC, secou e devastou Babilônia e suas defesas.” – Profecias de Isaías, Vol. II, p. 43, § 23, publicado pela Torre de Vigia, colchetes acrescentados.

Embora essa informação seja do conhecimento de muitos estudiosos, é a primeira vez que as "Testemunhas de Jeová" têm a oportunidade de saberem algo a respeito dela, já que estão praticamente proibidas de estudarem esses assuntos em outras fontes que não sejam as publicações da Torre de Vigia.

Obviamente, a Torre de Vigia não concorda com essa aplicação dos 70 anos e tenta provar em seguida que eles não se referem ao domínio de Babilônia. Esta é uma missão bastante difícil, pois as cinco citações acima são bem claras, não acha? Apesar das explicações dadas na Sentinela serem bem superficiais, certamente agradou a maioria das "Testemunhas de Jeová", uma vez que raramente elas têm intimidade com esse tipo de assunto.

Já no segundo artigo mantém-se o esforço iniciado na primeira parte para desacreditar algumas fontes arqueológicas que contradizem a data 607. Das importantes tabuinhas cuneiformes do período neobabilônico, ele se concentra apenas em uma delas, o diário astronômico VAT 4956, e deixa diversas outras evidências de fora, sem mencioná-las (existem várias provas adicionais e independentes a favor de 587 para a destruição de Jerusalém pelos babilônios).

O principal erudito por trás dos dois artigos

Uma particularidade dessa série de artigos é que boa parte do que foi escrito neles já foi publicada em 2007 por um escritor da Noruega, e seus argumentos a favor de 607 a.C. já tinham sido refutados por alguns eruditos. De fato, quem está por dentro do assunto sabia que mais cedo ou mais tarde a Torre de Vigia faria uso desse escritor. Quem é ele?

Sabe-se que os grandes "eruditos" que a Torre de Vigia tinha já morreram (a exemplo do seu ex-presidente Frederic Franz). E se uma "Testemunha de Jeová" resolvesse se tornar um erudito só para ajudar sua religião? Será que isso não seria apreciado pela Torre de Vigia? Foi provavelmente o que fez uma "Testemunha de Jeová" da Noruega, chamada Rolf Furuli. Ao que parece, ele decidiu ser um erudito especialmente com o intuito de defender sua religião, já tendo publicado alguns livros sobre cronologia antiga e hebraico. Ele chamou seus textos sobre 607 a.C. de "Cronologia de Oslo", transmitindo a ideia de que nada tem a ver com as "Testemunhas de Jeová" (ele não aborda temas “proféticos”, só históricos). Como se as pessoas não fossem descobrir sua agenda secreta... A Torre de Vigia resolveu usar os argumentos publicados por Furuli, pois provavelmente ele é o único "erudito" do mundo que escreve a favor da cronologia que leva a 1914 (isto é, a data 607 a.C.).


"A Cronologia Persa e a Duração do Exílio
Babilônico dos Judeus", de Rolf Furuli

Em nenhum momento, porém, a Torre de Vigia informa que Rolf Furuli é a sua principal fonte de pesquisa para esses artigos. Naturalmente, ela não fez uma transcrição dos livros de Furuli. Ela reescreveu o assunto e acrescentou sua visão “bíblica”, dando a impressão de que é a verdadeira autora da linha de raciocínio apresentada. Pode ser até que ela e Furuli tenham chegado a um acordo, para deixá-lo nos bastidores e o seu trabalho ser usado sem reservas.

Os estudos de Furuli acerca de 607 a.C. já foram refutados minuciosamente, especialmente por Carl Olof Jonsson, da Suécia. A obra de Furuli é completamente falha e tendenciosa, no que tange à data 607. Carl Olof Jonsson demonstrou isto usando evidências de altíssimo nível. Mas, como sempre, as "Testemunhas de Jeová" ficarão em eterna ignorância sobre esse fato. Exceto as que resolverem pesquisar no Google. Aqui no Brasil, por exemplo, o site Mentes Bereanas foi autorizado por Carl Olof Jonsson a publicar em português sua análise sobre os recentes artigos da Sentinela, além do comentário que ele já tinha escrito acerca do texto de Furuli, anos antes.

CONSIDERAÇÃO DA PARTE 1

2. Os setenta anos de Babilônia

Setenta anos para quem?

Baseando-se nas informações dos historiadores, depois que Jerusalém foi destruída, o exílio dos judeus em Babilônia durou cerca de 50 anos. Então, o que são os 70 anos do livro bíblico de Jeremias?

Por entenderem erroneamente 2 Crônicas 36:20-21, Daniel 9:1, 2 e Zacarias 1:12 (comentados mais adiante), muitos pensam que os 70 anos se referem ao exílio dos judeus em Babilônia. Não somente a Torre de Vigia aderiu a esse entendimento. Há outros religiosos que já pensaram o mesmo. No entanto, o conhecimento bíblico mais refinado de hoje já mostrou que o exílio durou mesmo aproximadamente cinquenta anos, a contar da destruição de Jerusalém, e que os setenta anos de Jeremias se cumprem em Babilônia, e não em judeus exilados. Mas não é necessário vasculhar as evidências arqueológicas para descobrir essa informação. A própria Bíblia responde a quem se aplicam os 70 anos:

“Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos.” – Jeremias 25:11.

Somente quando os setenta anos concedidos ao rei de Babilônia acabarem, é que eu vos visitarei e cumprirei minha promessa em vosso favor por trazer-vos de volta a este lugar.” – Jeremias 29:10, Jerusalem Bible.

Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”, diz O SENHOR. – Jeremias 25:12, Nova Versão Internacional.

Não obstante a clareza das afirmações acima, a Torre de Vigia diz o seguinte na página 27:

“A Bíblia, porém, mostra que os 70 anos seriam um período de punição severa da parte de Deus – dirigida especificamente ao povo de Judá e Jerusalém.” – Negrito acrescentado.

Ao ver os três versículos bíblicos supracitados, você acha que esse período é dirigido especificamente a quem?

Sim, o foco dos 70 anos é a supremacia de Babilônia, e não o exílio dos judeus, embora ele esteja também dentro da profecia, porque Babilônia foi usada como instrumento de punição da parte de Deus.

Diz ainda a Sentinela, na mesma página:

“Quando [os judeus] se recusaram a mudar seu proceder errado, Deus disse: ‘Enviarei... Nabucodonosor, rei de Babilônia,... contra esta terra, e contra os seus habitantes.” – Colchetes acrescentados.

E qual foi o proceder errado que, finalmente, levou à destruição de Jerusalém? Foi justamente não se sujeitarem à Babilônia! Judá e outras nações deveriam servir ao rei de Babilônia por 70 anos, conforme Deus havia decretado:

"‘A nação e o reino que não o servirem, sim, a Nabucodonosor, rei de Babilônia, e aquela que não puser seu pescoço sob o jugo do rei de Babilônia, para tal nação voltarei a minha atenção com a espada, e com a fome, e com a pestilência’, é a pronunciação de Jeová, ‘até que eu tenha dado cabo deles pela sua mão’". – Jeremias 27:8.

Por não obedecerem ao referido decreto, Jerusalém foi destruída e os judeus levados ao exílio. Note que, de fato, Deus havia condicionado a sobrevivência deles à sujeição ao rei de Babilônia:

"Até mesmo a Zedequias, o rei de Judá, falei segundo todas estas palavras, dizendo: ‘Trazei vosso pescoço sob o jugo do rei de Babilônia e servi a ele e ao seu povo, e continuai vivendo. Por que devias tu mesmo e o teu povo morrer pela espada...?... E não escuteis as palavras dos profetas que vos dizem: ‘Não servireis o rei de Babilônia’, porque é falsidade o que vos profetizam.’" – Jeremias 27:12-14.

Portanto, os 70 anos não estavam condicionados à destruição de Jerusalém e ao exílio em massa dos judeus em Babilônia. Estes dois eventos foram uma consequencia, e não a causa. Aconteceram simplesmente porque os judeus procederam errado ao não obedecerem o decreto de Deus: de servirem ao rei de Babilônia até que os 70 anos terminassem.

Tão logo os 70 anos concedidos à Babilônia findassem, o rei de Babilônia de então também seria punido. Quando isso aconteceu? Precisamente em 539 a.C., quando Babilônia foi invadida pelo exército persa, sob o comando do general Ciro:

“[Deus] se refreou de agir até o seu devido tempo.... em 539 AEC, secou e devastou Babilônia e suas defesas.” – Profecias de Isaías, Vol. II, p. 43, § 23, publicado pela Torre de Vigia, negrito e colchetes acrescentados.

Sim, claramente os 70 anos de Jeremias 25:11 terminam em 539 a.C., pois foi nessa data que o rei de Babilônia foi punido. Tudo ocorreu no seu devido tempo. Ou seja, aconteceu exatamente o que disse a profecia, de que Deus puniria o monarca babilônio somente 'quando os setenta anos terminassem'.

Agora note a seguinte inconsistência. Se for considerado que os 70 anos terminam em 537 a.C., conforme a Torre de Vigia afirma, isto significaria que o rei de Babilônia foi punido 2 anos antes do previsto, no 68º ano desses 70 anos! Esta contradição nunca foi explicada pela Torre de Vigia. Observe o desenho abaixo:


(note que a punição ocorre antes do fim dos 70 anos)

Não há necessidade de fazer conjecturas. A profecia cumpriu-se de forma exata. Babilônia só foi punida depois que os 70 anos acabaram, e não antes. Mas para perceber isso é necessário aceitar que os 70 anos se referem à supremacia de Babilônia sobre as nações, e não ao exílio dos judeus na Caldéia. Neste caso, não haverá contradição:


(note que a punição ocorre depois do fim dos 70 anos)

Tudo aconteceu no devido tempo marcado por Deus:

Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos.” – Jeremias 25:11.

Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”, diz O SENHOR. – Jeremias 25:12, NVI.

Somente quando os setenta anos concedidos ao rei de Babilônia acabarem, é que eu vos visitarei.” – Jeremias 29:10, JB.


"Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos"

Observação 1:

De acordo com muitas edições da Bíblia, a tradução correta de Jeremias 29:10 é a seguinte:

"Quando se completarem para a Babilônia setenta anos, visitar-vos-ei e realizarei a promessa de vos fazer retornar a este lugar." – Bíblia Vozes.

Ou ainda:

"Quando os setenta anos de Babilônia terminarem, eu tomarei nota de vós, e cumprirei Minha promessa de favor - por trazer-vos de volta a este lugar." – Bíblia Tanakh.

No entanto, algumas traduções dizem deste modo:

"De acordo com o cumprimento de setenta anos em Babilônia, voltarei minha atenção para vós, e vou confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar." – Tradução do Novo Mundo, Bíblia oficial das "Testemunhas de Jeová".

Sendo assim, qual é a tradução correta? É "para Babilônia" ou "em Babilônia"?

O significado literal da palavra hebraica original ("Le") realmente é "para", entretanto, em algumas situações é possível traduzi-la por "em", se o contexto permitir. Pelo que foi visto até agora, você acha que o contexto favoresse "para" ou "em"? Parece bem evidente que "para" é a melhor tradução. E, por ser o sentido literal do termo hebraico, a Tradução do Novo Mundo deveria traduzi-lo "para" ao invés de "em", pois seus tradutores já disseram em mais de uma ocasião que o objetivo de sua tradução é procurar sempre ser literal, na medida do possível. – Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa (1990), p. 329, § 9, publicado pela Torre de Vigia.

Há um fato interessante que é de conhecimento de poucas "Testemunhas de Jeová". Existem edições da própria Tradução do Novo Mundo que traduzem "para Babilônia" no lugar de "em Babilônia". É o caso das edições em dinamarquês e sueco (coincidência ou não, foi justamente na Suécia onde surgiu a primeira grande contestação erudita contra a data 607 a.C.).


(Jeremias 29:10 na Tradução do Novo Mundo em sueco)

Na verdade, além das versões em sueco e dinamarquês da Tradução do Novo Mundo, existem outras Bíblias publicadas pela Torre de Vigia que também traduzem Jeremias 29:10 com o sentido correto ("para Babilônia"). Veja quais são elas no apêndice A, ao final desta análise.

De qualquer maneira, sabendo-se o contexto e o foco da profecia, mesmo que Jeremias 29:10 fosse traduzido "em Babilônia" ao invés de "para Babilônia", ainda assim seria possível entender o texto corretamente. A profecia se cumpre em quem? Em Babilônia ou em exilados judaicos? Em Babilônia, claro.

"De acordo com o cumprimento [da profecia] de setenta anos em Babilônia, voltarei minha atenção para vós, e vou confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar." - Tradução do Novo Mundo, negrito e colchetes acrescentados.

Somente se o versículo se referisse indubitavelmente ao exílio é que não daria para dizer que a passagem se refere à Babilônia. Bastaria haver algo assim: "Depois do vosso castigo de passar setenta anos em Babilônia, é que voltarei minha atenção para vós." Mas, ao invés disso, é dito "de acordo com o cumprimento de setenta anos em Babilônia".

Para saber mais detalhes sobre os 70 anos de Babilônia e a tradução correta de Jeremias 29:10, baixe o capítulo 5 do livro Tempos dos Gentios Reconsiderados, do escritor sueco Carl Olof Jonsson, disponível neste link (429 Kb, pdf).

Observação 2:

Há quem pense que, mesmo aceitando-se o ano 587 a.C. para a destruição de Jerusalém, é possível aplicar os 70 anos ao exílio dos judeus. Isto porque, segundo a crônica babilônica BM 21946, quando Nabucodonosor assumiu o trono em 605 a.C. ele levou algumas pessoas do território de "Hatu" para Babilônia, junto com um grande despojo (uma espécie de tributo ao novo rei). Hatu é o nome dado à uma região que abrangia diversas nações, inclusive Judá. Portanto, judeus foram levados para Babilônia já em 605, de modo que, em certo sentido, o exílio dos judeus teria começado em 605, e não em 587, quando eles foram transferidos em grande quantidade para Babilônia, depois que Jerusalém foi queimada. Aceitando-se que eles retornaram do exílio em 537 a.C., percebe-se que são quase 70 anos (68 anos). Então, os 70 anos de Jeremias deveriam ser entendidos como um número aproximado, e não rigorosamente exato. – Crônicas dos Reis Caldeus, de D. J. Wiseman, ed. Curadores do Museu Britânico, 1961, pp. 66-75, Reallexikon der Assyriologie, vol. 4, pp. 154-156, editado por D.O. Edzard, com estudos do Dr. J. D. Hawkins.

Esta aplicação pode não ser a correta, mas pelo menos não contradiz o ano 587 a.C., o que a torna melhor que o entendimento da Torre de Vigia, que também tem um erro de dois anos (reveja o primeiro desenho desta seção). Mas, se esse conceito dos "70 anos aproximados" fosse aceito, obviamente surgiriam alguns problemas. Por exemplo, seria necessário encontrar uma explicação para não contradizer Jeremias 25:12, que diz que o rei de Babilônia só seria punido depois que terminassem os setenta anos. Uma saída talvez fosse imaginar que houve dois períodos independentes de setenta anos que correram em paralelo, de maneira quase coincidente: Os 70 anos exatos* da hegemonia babilônica (609-539 a.C.) e os 70 anos aproximados do exílio mais abrangente dos judeus (605-537 a.C.). E note que ainda existe na Bíblia outro período de 70 anos, mencionado em Isaías 23:15-18, que alguns eruditos dizem ser os 70 anos durante os quais a Assíria controlava Tiro (c. 700-630 a.C.). – O Jugo de Babilônia (=Coniectanea Biblica. Coleção do Velho Testamento 4), de Seth Erlandsson (Lund, Suécia: CWK Gleerup, 1970), pp. 97-102.

* Não seria razoável achar que Deus faria questão que sua profecia se cumprisse com a precisão de um relógio atômico, contando cada dia, minuto e segundo. Se fôssemos considerar até os dias, nem mesmo os 70 anos de hegemonia de Babilônia foram absolutamente exatos. Babilônia derrotou o último rei assírio no mês de ululu (23 de agosto a 20 de setembro) de 609 a.C., e depois sucumbiu ante os persas no 14º dia do mês de tashritu (10 de outubro) de 539 a.C., perfazendo um total de 70 anos e alguns dias. (Israel e Judá, Textos do Antigo Oriente Médio, 1985, Edições Paulinas, pp. 82, 90). Em uma comunicação particular que mantive com o professor Bert van der Spek, ele ainda aventou outra possibilidade de entendimento: “Não é necessário tomar os 70 anos como sendo literais: eles são evidentemente uma figura simbólica. Mas, mesmo assim, caso você considerasse o ano 586 como sendo o ano da captura, 70 anos depois o templo foi inaugurado, em 3 de Adar do ano 516, ano 6 de Dario (=12 de março de 515 d.C.). Nada mal, eu diria”.

3. A base que existe para o ano 587 a.C.

Um evento historicamente estabelecido

Babilônia só se tornou potência dominante quando derrotou a Assíria (a potência dominante anterior). O que já era esperado, pois com a queda de Nínive, em 612 a.C., a Assíria entrou em declínio. Chegou ao colapso total em 609 a.C., quando o pai de Nabucodonosor derrotou Assurbalit, o último rei da Assíria. Portanto, foi em 609 a.C. que a Assíria deixou definitivamente o cenário mundial e cedeu lugar a Babilônia.

“Fim da Assíria. - .... Então, depois da queda de Nínive em 612, a queda de Haran em 610 e a tentativa de reconquistá-la mais tarde em 609, a Assíria deixou de existir.” – Encyclopedia Britannica, Chicago, 1964, pp. 966, 967.

“Os assírios foram definitivamente derrotadas [por Babilônia] em 609 a.C. e a Assíria desapareceu da história.” – Dicionário Bíblico, de John L. Mackenzie, 2001, Ed. Paulus, p. 90, colchetes acrescentados.

“Segundo a cronologia secular, os babilônios dominaram o território das antigas Judá e Jerusalém por uns 70 anos, de cerca de 609 AEC a 539 AEC, quando a capital de Babilônia foi capturada.” – A Sentinela, 01/10/2011, p. 27.

Depois veja no apêndice outras fontes que citam o fim da Assíria em 609 a.C.

Parece que o escritor desse artigo da Sentinela não queria perder a oportunidade de lançar o mínimo de dúvida que fosse na informação que mencionou. Ele disse que "de cerca de" 609 até 539 AEC os babilônios dominaram o "território das antigas Judá e Jerusalém". E que essa estimativa é apresentada pela "cronologia secular". Ou seja, não é obtida da "cronologia bíblica". Nessa proposital combinação de palavras ele tenta desvirtuar o que acabou de citar...

É claro que a expressão "cerca de" não cabe nesse caso, pois foi precisamente em 609 AEC que o último rei da Assíria foi derrotado, e Babilônia se tornou a nação hegemônica. Babilônia também não dominaria somente os territórios da antiga Judá. Dominaria "as nações" e qualquer "reino" que quisesse, no decorrer dos 70 anos* (Jeremias 25:11, 27:8). Além disso, é na cronologia apresentada pelos historiadores ("cronologia secular") que podemos saber as datas envolvidas nesse episódio. Em sentido absoluto, não existe "cronologia bíblica", pois a Bíblia não informa nenhuma data. Ela diz apenas que Jerusalém foi destruída no 18º ano de Nabucodonosor. Nada mais. É uma cronologia relativa. Sem as fontes arqueológicas não há como saber em que data foi o 18º ano de Nabucodonosor.

* Logicamente, nem toda nação se sujeitou à Babilônia durante exatos 70 anos. Mas em qualquer momento durante esses 70 anos Babilônia poderia exigir de qualquer reino algum tipo de tributo ou sujeição. Em 609 AEC, o rei de Babilônia não saiu fazendo essa exigência a todos os reinos. No entanto, foi nesse ano que Babilônia iniciou "oficialmente" sua hegemonia e saiu conquistando os povos, especialmente no reinado de Nabucodonosor.

Pois bem, apenas para enfatizar, se a hegemonia de Babilônia começou em 609 a.C. e terminou em 539 a.C., quantos anos foram, no total?

Setenta anos, conforme foi predito:

“Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos.” – Jeremias 25:11.

“Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”, diz Jeová. – Jeremias 25:12, NVI.

“Somente quando os setenta anos concedidos ao rei de Babilônia acabarem, é que eu vos visitarei e cumprirei minha promessa em vosso favor por trazer-vos de volta a este lugar.” – Jeremias 29:10, JB.


Depois de 70 anos de supremacia, após uma única noite Babilônia amanheceu sob o domínio dos persas

Qual é a base para 587 a.C.?

A mesma cronologia estabelecida que mostra que Babilônia dominou por 70 anos, ao invés de 90 anos, como quer a Torre de Vigia, também indica que Jerusalém foi destruída em 587 a.C.. Sobre o estabelecimento desta data, a Sentinela diz o seguinte:

“Por que muitas autoridades defendem 587 AEC? Elas se baseiam em duas fontes – os escritos de historiadores clássicos e o Cânon de Ptolomeu. Será que essas fontes são mais confiáveis do que as Escrituras?” - A Sentinela, 01/10/2011, p. 29.

A afirmação acima da Sentinela é totalmente capciosa. Considere o seguinte:

1) Não são “muitas" autoridades que defendem 587 (ou 586). São todas! Se houvesse ao menos uma autoridade que não apoia esse ano será que a Torre de Vigia perderia a oportunidade de mencioná-la? Dificilmente.

2) Não existe nenhuma data na Bíblia. O que ela diz é que Jerusalém foi destruída no 18º ano do reinado de Nabucodonosor. Sem as fontes arqueológicas não é possível saber que data foi essa. Portanto, a descrição “cronologia bíblica” tem sido usada pela Torre de Vigia meramente como espantalho para que as "Testemunhas de Jeová" não se aproximem da verdade e descubram que negar 607 não significa negar a Bíblia. Perceba que a situação é colocada especificamente em tal perspectiva, pois eles dizem: “Será que essas fontes são mais confiáveis do que as Escrituras?”. (Pergunte a qualquer "Testemunha de Jeová", onde a Bíblia, e somente a Bíblia, diz que Jerusalém foi destruída em 607 a.C.; verá que ela não será capaz de apontar o lugar, pois ele simplesmente não existe).

3) Por fim, embora a data 587 possa ser obtida dos historiadores clássicos e do Cânon de Ptolomeu, nem de longe essas são as principais fontes usadas pelas “muitas autoridades”. Veja de quantos lugares adicionais se obtém essa informação, conforme indica a obra de Carl Olof Jonsson:

- Crônica de Nabonido
- Crônica de Aquito
- Outras crônicas do período
- Estela de Hilá
- Estela de Adda-Gupp
- Lista de Reis de Uruque
- Lista real de Beroso
- Cânon de Ptolomeu
- Historiadores clássicos
- Documentos comerciais e administrativos
- Evidências prosopográficas da empresa Filhos de Egibi
- Diários Astronômicos: VAT 4956, BM 32312, BM 38462* etc.
- Textos Saros (tabuinhas sobre eclipses lunares)
- Sincronismo com a cronologia egípcia independente e contemporânea ao período neobabilônico.

* Na verdade, esta tabuinha serve apenas para mostrar que 607 a.C. não pode ser a data correta.

Por que o escritor da Torre de Vigia mencionou apenas duas fontes e "se esqueceu" das demais? Essa omissão deve ser fruto de preconceitos previamente cristalizados. A afirmação de que as “muitas autoridades” se baseiam tão somente no Cânon de Ptolomeu e nos historiadores clássicos para determinarem o ano 587 contradiz internamente até mesmo a série da Sentinela, pois outras fontes foram mencionadas nela. Por exemplo, é dito que o diário astronômico VAT 4956 é usado para marcar o 37º ano do reinado de Nabucodonosor. Este diário faz parte do acervo do Museu do Oriente Médio de Berlim (Vorderasiatisches Museum). Como será visto na seção seguinte, querer que essa tabuinha situe a destruição de Jerusalém em uma data que não seja o ano 587 a.C. é um convite à total frustração. É realmente impossível obter tal informação desse diário astronômico. Por esta razão, a declaração abaixo é uma das mais surpreendentes publicadas na série da Sentinela:

“Por causa da confiabilidade superior das posições lunares, os pesquisadores examinaram cuidadosamente os 13 grupos de posições lunares na VAT 4956. Eles analisaram os dados com a ajuda de um programa de computador capaz de mostrar a localização de corpos celestes em determinada data no passado. O que essa análise revelou? Ao passo que nem todos esses grupos de posições lunares são compatíveis com o ano 568/567 AEC, os 13 grupos são compatíveis com posições calculadas para 20 anos antes, ou seja, para o ano 588/587 AEC.” - A Sentinela, 01/11/2011, p. 25.

A revista não mencionou quem são os tais "pesquisadores" que chegaram a essa incrível conclusão. Esta é uma ótima pergunta a ser feita para a Torre de Vigia...

Para que a Torre de Vigia e Rolf Furuli estivessem certos seria necessário ter havido um grande empreendimento no passado, envolvendo vários escribas de diversas épocas, que tenha falsificado as tabuinhas cuneiformes para desacreditar o ano 607, e apoiar o 587. Os supostos erros que eles mencionam cometidos por escribas babilônicos em algumas tabuinhas cuneiformes não é suficiente para explicar a vasta ausência de provas para 607 a.C. Só mesmo uma "teoria da conspiração" explicaria isso.

Portanto, as fontes que apoiam a cronologia historicamente estabelecida são muitas, não contradizem a Bíblia e todas as autoridades são unânimes em fixar o ano 587 a.C. para a destruição de Jerusalém pelos babilônios.


Crônica de Nabonido, uma das fontes arqueológicas que apontam para 587 a.C.

4. A desolação de Jerusalém e os Setenta Anos

A desolação de Jerusalém e os setenta anos de Babilônia

Quando os 70 anos de Babilônia terminaram em 539 a.C., e teve início o domínio persa, o profeta Daniel voltou sua atenção para a então devastada Jerusalém. Sobre esse episódio, a revista A Sentinela diz o seguinte:

“O profeta Daniel, que viveu até o começo do ‘domínio persa’ e estava em Babilônia quando isso aconteceu, calculou quando os 70 anos terminariam. Ele escreveu: ‘Eu, Daniel, compreendi pelas Escrituras, conforme a palavra do SENHOR dada ao profeta Jeremias, que a desolação de Jerusalém iria durar setenta anos.’— Daniel 9:1, 2, NVI.” – A Sentinela, 01/11/2011, p. 28.

Ao ver a tradução acima, qualquer um poderia chegar à conclusão de que o profeta Daniel realmente disse que Jerusalém ficaria desolada por setenta anos. Consequentemente, o exílio em massa dos judeus teria durado também setenta anos. Mas isto contradiz as evidências históricas e o próprio livro de Jeremias, pois ele disse que os setenta anos se referem ao domínio de Babilônia sobre as nações e não à desolação de Jerusalém. Por este motivo, ao ler os escritos de Jeremias, Daniel não poderia fazer uma aplicação diferente dos setenta anos. E realmente ele não fez isso. Na verdade, a tradução acima da Nova Versão Internacional está errada. Note a seguir o real sentido desse texto, que está melhor vertido na Tradução do Novo Mundo:

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra de Jeová para Jeremias, o profeta, para se cumprirem as devastações de Jerusalém, [a saber,] setenta anos.” – Daniel 9:2.

A expressão "a saber" não consta no texto hebraico original. Por isso ela está entre colchetes. Sendo assim, o tradutor poderia ter inserido quaisquer palavras que quisesse nesses colchetes. Até mesmo as que deixariam claro que Daniel estava a mencionar dois eventos distintos. Por exemplo:

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra de Jeová para Jeremias, o profeta, para se cumprirem as devastações de Jerusalém, [e os] setenta anos.” – Daniel 9:2.

Qualquer leitor que estivesse familiarizado com o conteúdo do livro de Jeremias, especialmente numa Bíblia que traduz corretamente o texto de Jeremias 29:10*, não teria nenhuma dúvida quando visse Daniel mencionar "as devastações de Jerusalém e os setenta anos". Rapidamente, o leitor se lembraria que os setenta anos mencionados são aqueles que foram dados à Babilônia (Jer. 25:10). Por esta razão, nada impediria que dois pares de colchetes fossem acrescentados para esclarecer melhor o que foi dito, pois estaria de acordo com o contexto do livro de Jeremias:

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra de Jeová para Jeremias, o profeta, para se cumprirem as devastações de Jerusalém, [e os] setenta anos [de Babilônia].” – Daniel 9:2.

Portanto, Daniel mencionou numa mesma declaração dois eventos distintos: "... até se cumprirem (1) as devastações de Jerusalém, e (2) os setenta anos de Babilônia." Sendo que o primeiro acontecimento dependia do segundo.

* Foi visto na análise da primeira parte da série da Sentinela que o hebraico original de Jeremias 29:10 realmente diz "setenta anos para Babilônia". O profeta Daniel era judeu e sabia ler o hebraico perfeitamente. Com certeza, foi assim que ele entendeu Jeremias. Então, ele não poderia ter se confundido. Além disso, o desenrolar dos acontecimentos mostrou que Babilônia dominou o cenário mundial por exatos 70 anos. Daniel sabia disso e foi testemunha ocular da queda de Babilônia, em 539 a.C. Então, ao ver a profecia no livro de Jeremias, Daniel se deu conta de que a desolação de Jerusalém também estava prestes a terminar, pois os setenta anos já tinham terminado. Parafraseando o que ele disse, o pensamento dele não poderia ser outro senão o seguinte: “Consultei Jeremias e percebi que o fim dos 70 anos de Babilônia indica que a desolação de Jerusalém também deve terminar.”

O que ocorre é que Daniel 9:2 é um versículo da Bíblia que têm demandado certa margem de interpretação por parte dos tradutores. O que muitos deles têm feito são paráfrases do texto hebraico. Meras adaptações do versículo em apreço. Mesmo assim, ainda é possível notar o sentido correto em várias traduções diferentes. Por exemplo, observe o mesmo texto na seguinte versão:

“Eu, Daniel, entendi pelos livros o número de anos que Jeová falou ao profeta Jeremias, que [Jeová] iria realizar a desolação de Jerusalém em setenta anos.” – Daniel 9:1, 2, La Santa Biblia, de Casiodoro de Reina e Cipriano de Valera, colchetes acrescentados.

Durante os setenta anos dados a Babilônia muitas coisas aconteceram. Em setenta anos o reino assírio foi obliterado, os egípcios derrotados e os judeus punidos. Deus também realizou a "desolação de Jerusalém em setenta anos", e pelo tempo em que ela esteve desolada a 'terra descansou e cumpriu seus sábados'. Não foram necessários mais do que 70 anos para Deus realizar tudo o que pretendia.

Em princípio, o que determinaria o término da desolação de Jerusalém seria o fim dos setenta anos concedidos à Babilônia. Leia o mesmo trecho em outra versão:

“Eu consultei os livros sobre o número de anos que... deviam ser o termo da desolação de Jerusalém - setenta anos.” – Daniel 9:1, 2, Tanakh, da Sociedade Publicadora Judaica, Jerusalém.

A palavra "termo" não aparece no texto hebraico. Ela foi acrescentada pelo tradutor. No entanto, mesmo deixando-a nesse versículo é possível perceber o sentido correto dessa passagem. "Termo" pode ser entendido também por "término", e não somente por "duração". Diz o Dicionário Larousse Cultural: "Termo (ê) s. m. (lat. terminus). 1. Término. 2. Fim, limite... 3. Tempo fixado, prazo." Deste modo, o que determinaria o término do abandono de Jerusalém seriam os setenta anos de Babilônia. Quando eles terminassem, o caminho estaria livre para Jerusalém voltar a ser habitada. Ficaria faltando apenas os judeus se arrependerem e implorarem que Deus os levasse de volta. Esta atituide de humildade foi outra condição imposta por Deus para que Jerusalém fosse repovoada. – Jeremias 29:12-14; Daniel 9:3-19; Deuteronômio 30:1-6.

De qualquer maneira, os tradutores de Daniel 9:2, da Bíblia judaica Tanakh, deviam saber a quem se aplicam os setenta anos, pois eles traduziram Jeremias 29:10 da seguinte forma:

"Quando os setenta anos de Babilônia terminarem, eu tomarei nota de vós, e cumprirei Minha promessa de favor - por trazer-vos de volta a este lugar."

Isto apoia o entendimento aqui explicado, de Daniel 9:2.

Por fim, observe como o texto aparece em outra edição da Bíblia, e o que os seus editores entenderam:

“Assim, o país devia desfrutar seu descanso, porque descansou todo o tempo que estava em ruínas, até que passaram setenta anos.” – Daniel 9:1, 2, Versión Popular, da Sociedade Bíblica Americana.

Uma nota ao pé de página desta edição diz que os setenta anos mencionados em Daniel 9:2 se referem a Jeremias 29:10, que aparece nesta mesma Bíblia assim: ... tão logo "se cumpram setenta anos à Babilônia, atuarei em vosso favor".

E assim aconteceu. Tão logo os setenta anos concedidos à Babilônia terminaram, os arranjos de Deus para pôr fim à devastação de Jerusalém começaram a ser feitos.

O "descanso sabático" de Jerusalém

Segundo a Bíblia, Deus havia dito que os israelitas podiam cultivar suas terras por seis anos, mas no sétimo ano ela deveria descansar, sem nenhum cultivo (Deuteronômio 25:1-7). Ao que tudo indica, depois que Israel foi dividido em dois reinos independentes (o meridional e o setentrional) os judeus começaram a negligenciar essa determinação. Mas isto traria uma consequencia, conforme foi predito por Moisés:

“E naquele tempo saldará a terra os seus sábados, todos os dias em que jazer desolada, enquanto estiverdes na terra dos vossos inimigos. Naquele tempo a terra guardará o sábado, visto que tem de saldar os seus sábados. Guardará o sábado todos os dias em que jazer desolada, visto que não guardou o sábado nos vossos sábados quando moráveis nela.” – Levítico 26: 34,35; Deuteronômio 28:1-68.

Havia uma razão por trás dessa lei que exigia um "sábado" de descanso para a terra. Segundo a Sociedade Publicadora Judaica isto “servia para reduzir a quantidade de alcalinos, sódio e cálcio, depositados no solo pelas águas de irrigação.” (Comentário da JPS: Levítico, Baruch A. Levine, Jerusalém, 1989, p. 272). Ao violarem a lei do descanso sabático, eles estavam destruindo gradativamente o solo, reduzindo sua fertilidade.

Se Jerusalém foi destruída e abandonada em 587 a.C. e os judeus retornaram do exílio em 538 a.C., o descanso sabático durou então 49 anos (achar que o retorno se deu em 537 é mera especulação). Interessante que, segundo o livro bíblico de Levítico 25:8-28, o período máximo que um judeu podia ser privado de sua terra, recebida em herança, era também de 49 anos. Assim, quem estivesse em dificuldades financeiras e precisasse vender suas terras, poderia obtê-las de volta ao término de 49 anos. Isso era chamado de jubileu. Em 539 a.C o rei persa conquistou Babilônia e emitiu um decreto libertando os cativos. Com o fim do exílio, em 538 a.C. Jerusalém viu a chegada de seu jubileu. Foi assim que os judeus tiveram a sua terra de volta.

Se os 49 anos de descanso forçado da cidade (durante a desolação) correspondem exatamente ao número de sábados que a terra não havia descansado por negligência dos judeus, então o tempo total de violação da lei foi precisamente de 343 anos (49 x 7).

Para entender melhor. Se em 14 anos, por exemplo, dois anos não fossem reservados para descanso da terra, o povo de Judá ficaria devendo 2 anos para Deus. Se em mais 14 anos, 2 anos não fossem deixados para descanso da terra, a dívida aumentaria para 4 anos, e assim por diante. Se Jerusalém foi destruída em 587 a.C. e os judeus retornaram em 538 (quando Ciro emitiu seu decreto), significa então que a terra ficou desolada por 49 anos. Neste caso, fazendo-se uma regra de três simples, obtém-se que foram 343 "sábados" que a terra não descansou, ou seja, 343 anos:

Visualizando de outra maneira:

Se a negligência dos judeus em não guardar o "sábado" da terra durou até 587 a.C. (ano da destruição de Jerusalém), então significa que essa desobediência começou no ano 930 a.C., pois 587 + 343 = 930.

Será que existe alguma evidência histórica que corrobora a dedução acima? Existe algum evento importante que aconteceu em 930 a.C.? Carl Olof Jonsson responde:

"É interessante que cronologistas modernos que examinaram cuidadosamente tanto a evidência bíblica como a extrabíblica, geralmente datam a divisão do reino em 930 A.E.C. ou próximo disso. (F.X. Kugler, por exemplo, data em 930; E., R. Thiele e K.A. Kitchen datam em 931/30, e W. H. Barnes em 932 A.E.C.) Uma vez que este desastre nacional resultou em uma interrupção geral do culto no templo em Jerusalém por parte da maioria do povo, é razoável pensar que uma ampla negligência em guardar os anos sabáticos tenha também começado nessa época." – Tempos dos Gentios Reconsiderados, 2ª edição em português, p. 37.


Cilindro com o decreto de Ciro

Logo, ao invés de 70 anos, as "devastações de Jerusalém" duraram 49 anos. Daniel não contradisse este fato. Ele apenas mencionou simultaneamente "as desolações de Jerusalém" e os "setenta anos" de Babilônia em uma mesma declaração. É assim que Daniel 9:2 deve ser entendido. É o caso também dos seguintes versículos do Segundo Livro das Crônicas:

“Além disso, ele levou cativos a Babilônia os que foram deixados pela espada, e eles vieram a ser servos dele e dos seus filhos até o começo do reinado da realeza da Pérsia; para cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, até que a terra tivesse saldado os seus sábados. Todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado, para cumprir setenta anos.” – 2 Crônicas 36:20-21.

Quando o escritor bíblico disse "para cumprir setenta anos" ele quis dizer "até se completarem os setenta anos" de Babilônia. Depois que isto acontecesse é que o descanso da terra poderia ter fim.

Sentido semelhante contém Zacarias 1:12, que diz:

“Ó Jeová dos exércitos, até quando não terás misericórdia com Jerusalém e com as cidades de Judá, que verberaste por estes setenta anos [concedidos à Babilônia]?” – Colchetes acrescentados.

Portanto, Daniel, 2 Crônicas e Zacarias fazem referência à duas profecias diferentes, porém, combinadas.

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra de Jeová para Jeremias, o profeta, para se cumprirem as devastações de Jerusalém, [e os] setenta anos [de Babilônia].” – Daniel 9:2, Tradução do Novo Mundo, colchetes acrescentados.

“Para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos [de Babilônia] se cumpriram.” – 2 Crônicas 36:21, Almeida, Edição Corrigida e Fiel, colchetes acrescentados.

“Quanto tempo passará até que tu tenhas alguma ternura por Jerusalém e as cidades de Judá, às quais tu tens sido hostil nestes setenta anos [que foram concedidos à Babilônia]?” – Zacarias 1:12, Steven T. Byíngton, colchetes acrescentados.


Jerusalém guardou os "sábados" durante o tempo em que esteve desolada

CONSIDERAÇÃO DA PARTE 2

5. Comentando as evidências arqueológicas

A Torre de Vigia disse nesse artigo o seguinte:

“A maioria dos historiadores seculares acreditam que Jerusalém foi destruída em 587 AEC.” (p. 27).

Isto significa, portanto, que há uma minoria que não acredita, pessoas que poderiam até crer na data 607 a.C. Será mesmo? Por que então a Sentinela não citou nenhum desses historiadores, que fazem parte dessa minoria?

A resposta é simples. Eles realmente não existem! A Torre de Vigia não perderia a oportunidade de citar um historiador imparcial que favorecesse a data 607. Todos os historiadores dizem que Jerusalém foi destruída em 587, ou 586. Somente aqueles historiadores que fossem "Testemunhas de Jeová" discordariam disso, abrindo mão da seriedade de uma ciência a favor do dogmatismo de uma religião. E se houver algum historiador tão sui generis assim a Torre de Vigia dificilmente o mencionaria, pois rapidamente as pessoas descobririam tratar-se de uma "Testemunha de Jeová" querendo defender sua religião. Deve ser por isso que ela ainda não citou Rolf Furuli, embora esteja fazendo uso de sua obra.

Mas a Torre de Vigia conta com algo a seu favor. A maioria das "Testemunhas de Jeová" não se interessa por esse assunto, mesmo quando publicado pela religião delas. Dizem que não o entendem, e acham esse negócio de cronologia bíblica muito chato. Por isso que algumas “evidências” apresentadas na Sentinela a favor de 607 não serão discutidas aqui, pois senão ficaria uma análise muito extensa, o que diminuiria ainda mais as chances de uma "Testemunha de Jeová" ler a presente análise. Entretanto, para as "Testemunhas" que querem deixar o “leite” e passar para o “alimento sólido” sempre haverá boas opções de pesquisa. O site Mentes Bereanas, por exemplo, é repleto de informações assim. (Detalhe: a Torre de Vigia não quer que seus seguidores pesquisem sites de outros pesquisadores cristãos, e os que desobedecem correm o risco de serem excomungados, se forem descobertos e não "se arrependerem"...).

As evidências arqueológicas

A tabuinha cuneiforme VAT 4956 menciona o 37º ano de Nabucodonosor. Sobre essa tabuleta, a Torre de Vigia diz na Sentinela:

“Veja o exemplo de uma tabuinha conhecida como VAT 4956. A primeira linha dessa tabuinha diz: ‘Ano 37 de Nabucodonosor, rei de Babilônia.’ Em seguida, ela faz uma descrição detalhada da posição da Lua e de planetas em relação a diferentes estrelas e constelações. Também inclui um eclipse lunar. Os eruditos dizem que todas essas posições ocorreram em 568/567, o que faria com que o 18º ano de Nabucodonor II, quando ele destruiu Jerusalém, fosse 587 AEC. Mas será que essas referências astronômicas apontam irrefutavelmente apenas para o ano de 568/567 AEC?” – A Sentinela, 01/11/2011, p.25, negrito acrescentado.

Respondendo sem rodeios a pergunta feita, a resposta é sim!

Se considerarmos que o eclipse mencionado aconteceu em 568/567 AEC, realmente o ano 587 será o 18º ano de Nabucodonosor. Basta fazer o cálculo retroativamente, como mostra o desenho abaixo. O conjunto de todas as evidências permite isso. Se não fosse assim, não haveria unanimidade entre os especialistas no que diz respeito a essa data.

Qualquer pessoa pode constatar por si mesma se o que os eruditos afirmam sobre 587 é verdade ou não, usando modernos programas de computador que simulam eventos astronômicos de épocas passadas. Isto é mencionado pelo artigo da Sentinela, na página 25. E sobre o que se pode constatar nesses softwares, a nota 18 diz:

“Visto que a Lua pode facilmente ser rastreada, as posições dos outros corpos celestes mencionados na VAT 4956 e relacionados à Lua podem ser identificados, e suas posições datadas com boa medida de certeza.”

Observação: Carl Olof Jonsson recomenda que para simular os eclipses o programa mais indicado é o SkyMap Pro 11.04, de Chris Marriott, que usa o método lunar ELP2000-82B. Neste softawre, o valor delta-T utilizado para simular o movimento de aceleração da lua é de 1,7 millissegundos por século, o que proporciona maior precisão. Tal sistemática é resultado das extensas pesquisas feitas por F. Richard Stephenson na obra “Eclipses Históricos e a Rotação da Terra” (Cambridge, 1997).

Mesmo com toda evidência a favor de 567 a.C. para o 37º ano de Nabucodonosor mencionado na VAT 4956, a Torre de Vigia tenta mostrar que há outra possibilidade. Ela diz:

“A tabuinha menciona um eclipse lunar que, segundo os cálculos, ocorreu no dia 15º do terceiro mês babilônico, simanu. Realmente ocorreu um eclipse lunar nesse mês em 568 AEC – 4 de julho no calendário Juliano. No entanto, também houve um eclipse 20 anos antes, em 15 de julho de 588 AEC.” – A Sentinela, 01/11/2011, p.25.

Este argumento foi utilizado por Rolf Furuli na contracapa do volume 2 de seu livro Cronologia Assíria, Babilônica e Persa, Comparada com a Cronologia da Bíblia (Oslo, Noruega: Awatu Publishers, 2007). Mas a bibliografia apresentada na Sentinela (nota 17) em nenhum momento cita Rolf Furuli. Conforme mencionado na introdução desta análise, Rolf Furuli é uma "Testemunha de Jeová" norueguesa que muito provavelmente decidiu ser um "especialista" em história neobabilônica apenas com o intuito de defender data 607 para a destruição de Jerusalém. Ele já publicou dois livros sobre esse tema, além de outro livro sobre verbos hebraicos. Ele chama a "sua" cronologia do ano 607 a.C. de "Cronologia de Oslo".

Em resumo, o quadro é o seguinte:

1) Se o eclipse da VAT 4956 for o eclipse que ocorreu em 568 AEC:

568 AEC é o 37º ano de Nabucodonosor e a destruição de Jerusalém aconteceu em 587 AEC (data apresentada pelos historiadores).

2) Se o eclipse da VAT 4956 for o eclipse que ocorreu em 588 AEC:

588 AEC é o 37º ano de Nabucodonosor e a destruição de Jerusalém aconteceu em 607 AEC (data desejada pelas "Testemunhas de Jeová").

A Torre de Vigia ainda afirma:

“A VAT 4956 aponta com mais certeza para 607 AEC.... [De acordo com programas de computador que simulam eventos astronômicos,] ao passo que nem todos esses grupos de posições lunares são compatíveis com o ano 568/567 AEC, os 13 grupos são compatíveis com posições calculadas para 20 anos antes, ou seja, para o ano 588/587 AEC.” – A Sentinela, 01/11/2011, pp. 25, 27, colchetes acrescentados.

É surpreendente ver uma declaração assim tão segura sobre um assunto com pouca margem para reinterpretação. Mas o fato é que a afirmação acima está errada, conforme demonstrado em parte logo abaixo. Será que esse escritor da Torre de Vigia nem sequer testou em um software de astronomia essas alegações de Furuli? Ou ele sabe que está errado, porém confia que as "Testemunhas de Jeová" nunca irão conferir o que ele disse? De qualquer modo, o que ele talvez não saiba é que Furuli cometeu diversos erros que tornaram suas datas completamente inviáveis.

Conforme disse o escritor sueco Carl Olof Jonsson, em sua refutação a Furuli, “quase nenhuma das posições lunares registradas na VAT 4956 se ajusta ao ano 588/587, ao passo que quase todas elas se ajustam de maneira excelente a posições lunares no ano 568/567 AEC.” Isto pode ser confirmado no programa Starry Night. As simulações feitas neste software são mostradas na próxima parte desta análise. (Depois consulte outras simulações no artigo intitulado "Usando um Programa de Computador para Confirmar Datas", publicado na seção "História Universal" em www.adelmomedeiros.com).

Por conseguinte, torna-se claro que a VAT 4956 não apoia o ano 607 AEC. Assim sendo, o que foi afirmado na Sentinela está completamente errado! Na realidade, é exatamente o contrário do que ela informa. A VAT 4956 aponta com mais certeza para 587 AEC.

Será mesmo que quem escreveu esses artigos da Sentinela realmente simulou os eventos astronômicos descritos na tabuinha? Caso tenha feito isso, é impossível ele ter encontrado outro resultado senão o que está apresentado na seção seguinte desta análise. Neste caso, a matéria que escreveu seria um caso flagrante de desonestidade. Pode ser também que ele tenha apenas confiado naquilo que foi dito por Rolf Furuli, sem fazer a devida verificação. Seja lá o que aconteceu, de uma forma ou de outra os artigos carecem de credibilidade e não podem ser usados como referência por nenhum pesquisador sério.

A despeito de todas as evidências astronômicas, a Torre de Vigia seguiu o raciocínio de Furuli dizendo que aquele eclipse mencionado pela VAT 4956 não é o eclipse lunar que ocorreu em 568 AEC, mas sim o que ocorreu em 15 de julho de 588 AEC, o que faria 607 AEC ser o 18º ano de Nabucodonosor (ano da destruição de Jerusalém), e não o ano 587 AEC. Não se esqueça! Jerusalém foi destruída no 18º ano de Nabucodonosor.

Mas o que o escritor da Sentinela não mencionou (se é que ele sabe disso) é que o eclipse de 15 de julho de 588 AEC está também registrado em outra tábua cuneiforme, a BM 38462, também conhecida por LBAT 1420. Ela foi publicada no livro Diários Astronômicos e Textos Relacionados, de H. Hunger, vol. V (Viena, 2001). E o que essa tabuinha diz a respeito? A BM 38462 informa que esse eclipse ocorreu no ano 17 de Nabucodonosor, e não no ano 37. Ou seja, o ano seguinte (587 AEC) foi o 18º ano de Nabucodonosor, data em que Jerusalém foi destruída. De maneira complementar, a BM 38462 confirma indiretamente o resultado obtido das simulações feitas para as observações mencionadas na tabuinha VAT 4956.


BM 38462   © British Museum

Qual foi a saída que Rolf Furuli tentou encontrar para esse problema gerado pela BM 38462?

“Furuli tenta se esquivar do peso enorme da evidência fornecida por esta tabuinha em apenas umas poucas afirmações bem confusas na página 127 do livro dele. Ele alega erroneamente que os muitos eclipses registrados ‘ocorreram no mês anterior ao que eles eram esperados, exceto num caso em que o eclipse pode ter ocorrido dois meses antes.’ Não há a menor parcela de verdade nesta declaração. Tanto os eclipses previstos como os observados estão de acordo com os cálculos modernos. Esta declaração se baseia em erros grosseiros que ele comete na página anterior de seu livro, onde ele identifica de maneira errada os meses da LBAT 1421, com resultados desastrosos para os seus cálculos.” - Análise Crítica do Segundo Livro de Rolf Furuli sobre Cronologia, de Carl Olof Jonsson, Gotemburgo, Suécia, 2007, p. 7.

Há outras informações da BM 38462 que confirmam ainda mais o 17º ano de Nabucodonosor em 588 AEC. Mas elas não serão comentadas aqui. O que foi mostrado já é suficiente para constatar a fragilidade dessas explicações publicadas na Sentinela.

6. Simulações astronômicas da VAT 4956 (atualização em 21/02/12)

Simulações astronômicas da VAT 4956

Foi comentado na consideração precedente que quase nenhuma das 13 posições lunares se ajusta ao ano 588 a.C. Por outro lado, quase todas se ajustam perfeitamente ao ano 568 a.C. O que faz a data 587 a.C. ser o ano em que Jerusalém foi destruída. Para provar isto as 13 posições lunares da VAT 4956 serão aqui demonstradas, no programa de astronomia Starry Night. Mas é bom que se diga que os softwares mencionados na revista A Sentinela também conduzem a resultados semelhantes, conforme atestou o pessoal do site Mentes Bereanas.

Se você não está familiarizado com programas de Astronomia e não conhece a maneira que os antigos escribas babilônios registravam eventos astronômicos, é muito recomendado que você leia o apêndice C, intitulado "Noções de Arqueoastronomia, Linguagem dos Diários Astronômicos e os Calendários", no final desta consideração.

Atenção! As descrições do diário que você verá nas 13 observações abaixo são uma tradução livre que visa facilitar o entendimento (leia a observação no final desta página). Caso você queira ver o texto da tabuinha tal como ele é no original, clique na imagem abaixo.

Veja a seguir as 13 posições lunares mencionadas no diário astronômico VAT 4956.

Nas simulações referentes às datas pretendidas pela Torre de Vigia, foram usadas as datas que Rolf Furuli apresenta em seu livro, já que a série da Sentinela só menciona algumas delas. No entanto, visto que Furuli é o "erudito" por detrás desses artigos sobre cronologia publicados pela Torre de Vigia, as datas que ele atribui às 13 observações acima podem ser consideradas as datas "oficialmente" aceitas pela liderança das "Testemunhas de Jeová".

As coordenadas escolhidas para fazer as simulações foram as do local onde ficava a antiga Babilônia:

Latitude:     32º 33' N

Longitude: 44º 25' E

Na opção "Time Zone" do software é necessário digitar o número 3.

Os critérios utilizados para indicar se uma simulação se ajusta ao que é descrito no diário foram os seguintes:

1) Para a distância entre a Lua e uma constelação: erros de até 2 graus foram desprezados.

2) Para a distância entre a Lua e uma estrela específica de determinada constelação: erros de até 1 grau foram desprezados.

3) Para outras situações foram desprezados quaisquer erros, desde que o cenário geral esteja de acordo com a tabuinha.

Essas pequenas diferenças não afetam a qualidade das simulações, pois estão dentro de uma margem de erro aceitável do software em relação ao que foi realmente observado, sem falar que os sistemas de medidas na antiguidade não eram tão precisos quanto os de hoje.

Observação Lunar Nº 01

“Ano 37 de Nabucodonosor, rei de Babilônia. Mês de nisanu [1º dia...] a Lua se tornou visível atrás de Touro no Céu.”

Dia do evento segundo os especialistas: 22-23 de abril de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, e antes do pôr do Sol, obtém-se o seguinte:


Perceba que Touro "chegou" primeiro ao horizonte e já está se pondo no oeste (W), e a Lua vem logo "atrás"

Observa-se que a Lua está atrás da constelação de Touro, exatamente como descrito na tabuinha.

Dia do evento segundo a Torre de Vigia: 11 de maio de 588 a.C.

Conforme comenta Carl Olof Jonsson, Furuli cometeu uma série de equívocos para determinar esta data, na tentativa de conseguir que a simulação no software se adequasse ao relato da tabuinha. Embora a data correta para o dia 1º de nisanu de 588 a.C. seja 3-4 de abril, Furuli a move um mês para frente. Mas ele não se decide em qual dia exatamente. Em partes diferentes do seu livro, ele menciona 3 datas para 1º de nisanu: 1º de maio, 2 de maio e 3 de maio. Tudo isto na tentativa de fazer a simulação se adequar ao registro cuneiforme. A razão desse problema é que, de acordo com os especialistas, o dia 1º de nisanu nunca ocorreu no mês de maio do calendário juliano. É uma data muito tardia. Para mais detalhes sobre esse assunto, leia o apêndice C.

De qualquer maneira, nenhuma das três datas apresentadas por Furuli se ajusta perfeitamente ao que foi descrito na tabuleta. A simulação abaixo é do dia 3 de abril de 588 a.C., a data correta para 1º de nisanu:

Conforme se percebe, a Lua está "à frente" da constelação de Touro, e não "atrás". Então, a simulação não se ajusta.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 02

“Noite do dia 9 [erro para: 8], começo da noite, a Lua ficou 2 graus à frente da ß de Virgem.”

Conforme indica a tradução de Sachs e Hunger, a menção "dia 9" está errada, pois o que o diário descreve aconteceu um dia antes. Os especialistas no assunto são unânimes nesta conclusão, e isto foi admitido pela revista A Sentinela, de 1º de novembro de 2011, p. 27. Neugebauer e Weidner também apoiam esta conclusão. Recuar um dia para fazer esse ajuste não é, de maneira alguma, uma liberdade inadequada, pois a simulação do evento corrobora essa correção.

O motivo da Torre de Vigia afirmar que o registro na tabuinha deve ser "9" mesmo, contradizendo todas as autoridades no assunto, é porque os seus pesquisadores chegaram à errônea conclusão de que isso facilitaria as coisas para a sua cronologia. Como pode se ver mais adiante, foi um intento em vão, pois em 588 a.C. o "9" também não se encaixa.

Dia do evento de acordo com os especialistas (corrigindo-se o erro do escriba): 29-30 de abril de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:


Nos pés da constelação de Virgem está o leste, por isso a Lua está na "frente", indo para o oeste

Com o programa Starry Night é possível identificar as estrelas que formam uma constelação. Basta selecionar a estrela com a seta (usando o botão esquerdo do mouse), e com o botão direito escolher a opção "Info Window...". Desta maneira, uma caixa se abrirá com as informações necessárias para aquela estrela. É o que foi feito acima, para identificar qual estrela é a beta de Virgem.

O valor obtido foi um pouco maior do que aquele informado pelo diário (2 graus). No entanto, esta diferença é aceitável pois os valores estão bem próximos. Em casos assim, é preciso lembrar-se que há pequenas margens de erro envolvidas. Não apenas do software, mas também das medições feitas pelos babilônios. Os instrumentos que eles tinham à disposição não eram tão precisos quanto os de hoje.

Interessante que se a eclíptica (linha verde) for usada como referência, e forem traçadas a partir da Lua e de Zavijava duas linhas imaginárias aproximadamente perpendiculares à eclíptica, percebe-se que a distância entre essas duas linhas perpendiculares é de cerca de 2 graus, exatamente a distância informada pela tabuinha:

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 11 de maio de 588 a.C.

Na página 313 de seu livro, Furuli afirmou erroneamente que 1º de nisanu caiu em 2 de maio de 588. Com base em tal ponto de partida, a data para a simulação seria 9-10 de maio. No entanto, ele avança mais um dia e diz que a data é 11 de maio. Mesmo nesta data, o registro não se adequa à data pretendida pela Torre de Vigia e Furuli:


“Noite do dia 9, começo da noite, a Lua ficou 2 graus à frente da ß de Virgem.” Portanto, o dia não confere, pois a Lua está "atrás", bem atrás...

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, caso o erro do escriba seja corrigido. Caso contrário, não se ajusta.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não, de maneira nenhuma.

Observação Lunar Nº 03

“Dia 1º do mês II ... a Lua se tornou visível enquanto o Sol ainda estava lá, 8 graus abaixo da ß de Gêmeos.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 22-23 de maio de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:

Realmente, a Lua está na constelação de Gêmeos, abaixo de sua estrela beta (Pollux), que é a estrela do "topo". Visto que ainda há luminosidade do Sol, que está se pondo, basta acionar o recurso anti-luminosidade do programa para ver melhor o quadro:

A distância angular entre Pollux e a Lua é muito próxima do que foi dito na tabuinha (8 graus).

Dia do evento segundo a Torre de Vigia: 1-2 de junho de 588 a.C.

Antes de mostrar a imagem, uma ressalva se faz necessária. Essa data para 1º de ayaru não pode ser a verdadeira porque em um período de 700 anos (626 AEC a 75 EC) o mês de ayaru nunca ocorreu no mês de junho. Foi sempre antes. Isto pode ser confirmado nas tabelas apresentadas na obra A Cronologia Babilônica, de R. A. Parker e W.H. Dubberstein, pág. 27-47, Editora Universidade Brown (1966).

Sobre este problema, Carl Olof Jonsson fez o seguinte comentário:

"Uma vez que Furuli datou o dia 1º de nisanu em 1º de maio, e depois em 2 de maio, o dia 1º de ayaru cairia um mês lunar depois. Furuli (na pág. 314) o data em 1º de junho. Entretanto, isso entra em conflito com suas datas anteriores, porque se o dia 1º de nisanu começou na noite de 1º de maio, como ele defende no começo (na pág. 296 do livro) e se o mês de nisanu teve 30 dias como a tabuinha diz, ele deveria ter datado o dia 1º de ayaru em 31 de maio. Mas, devido a ele depois mudar a data do começo do dia 1º de nisanu para a noite de 2 de maio (pág. 312,) ele agora pode datar o dia 1º de ayaru em 1º de junho. Ocorre que, conforme já foi salientado, a data de 2 de maio para 1º de nisanu também é inaceitável, uma vez que a lua só se tornou visível em 3 de maio." - Originalmente publicado em http://kristenfrihet.se/kf2/review.htm, tradução do site Mentes Bereanas.

Mesmo assim, ajustando-se o programa para esta data, para pouco antes do começo da noite, nota-se que o observado não está em perfeito acordo com o registrado no diário, porque a Lua dista da estrela ß de Gêmeos em quase 10 graus:


O recurso que tira a luminosidade foi ativado

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, perfeitamente.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Sim, parcialmente (porque uma data errada foi utilizada).

Observação Lunar Nº 04

“Mês III ... [Dia 1º] a Lua se tornou visível atrás de Câncer, do pôr do Sol ao pôr da Lua: 80 minutos.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 20-21 de junho de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Confirmado! Em 20 de junho de 568 a.C., no final da tarde, a Lua estava atrás da constelação de Câncer. Agora é preciso verificar quanto tempo demorou entre o pôr do sol e o pôr da Lua. Então, é necessário avançar mais no tempo.

Se o escriba começou a marcar do momento em que o Sol se pôs totalmente até a Lua se pôr totalmente, o começo se deu às 19:10 h e o término às 20:30 h, aproximadamente. Isto perfaz um total de 80 minutos, exatamente o tempo indicado pela tabuinha:


Aproximadamente às 19:30 h o Sol já tinha descido totalmente no horizonte


Às 20:30 h a Lua acabou de se pôr totalmente, exatamente 80 minutos depois que o Sol se pôs

Se o escriba contou de quando o Sol estava na iminência de se pôr até a Lua se pôr totalmente, o tempo total foi de aproximadamente 95 minutos, ainda muito próximo do relatado. A diferença é devido às margens de erro envolvidas. Esta segunda situação fica como sugestão para você simular, caso tenha um software apropriado. De uma maneira ou de outra, os dois cenários conferem com aquilo que foi mencionado no diário.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 30 de junho - 1º de julho de 588 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

A Lua também está atrás de Câncer, porém, devido à proximidade do Sol, ela não podia ser vista na maior parte da tarde. Além disso, o intervalo entre o pôr do Sol e o pôr da Lua foi de apenas 35 minutos, considerando-se a melhor situação. Sendo assim, este dia não pode ser aquele que é descrito no documento cuneiforme.

Situação 1 - De quando o Sol acabou de se pôr totalmente até a descida completa da Lua:


Quando o Sol acabou de se pôr, às 19:05 h...


... até quando a Lua se pôs totalmente, às 19:30 h, perfaz um tempo total de 25 minutos

Situação 2 - Limiar do pôr do Sol até a descida total da Lua:


Início do pôr do Sol, às 18:55 h

Das 18:55 h até às 19:30 h, horário em que a Lua se pôs (já visto anteriormente), resulta num total de 35 minutos, muito abaixo do tempo apontado pelo diário.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, perfeitamente.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 05

“Noite do dia 5, começo da noite, a Lua passou em direção ao leste 2 graus da estrela ß de Virgem.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 24-25 de junho de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

A observação para este dia não confere. A Lua está a mais de 9 graus da beta de Virgem. A estrela gama de Virgem, logo abaixo da Lua, é que está a cerca de 2 graus de distância. Logo, a observação se ajustaria se fosse a gama de Virgem. Pode ser que o escriba tenha se confundido e errado o nome da estrela. Com centenas de registros que eles faziam ao longo do ano, não era algo impossível de acontecer.

Há quem pense que o relato se refere ao dia anterior, e isto teria sido o erro do escriba, pois neste dia a Lua passou bem mais perto da beta de Virgem. No entanto, pelo critério que foi adotado aqui, essa possibilidade não parece adequada, pois a Lua dista mais de 4 graus da estrela Zavijava:


A Lua está a cerca de 4 graus atrás da
ß de Virgem, na direção leste (atrás)

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 3-4 de julho de 588 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Observa-se que a descrição não se ajusta a essa data, pois a Lua está a quase seis graus da beta de Virgem.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Não, porém se ajustaria caso o escriba tenha errado o nome da estrela (beta de Virgem ao invés de gama de Virgem).

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 06

“Noite do dia 8, primeira parte da noite, a Lua ficou 5 graus abaixo da ß de Libra.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 27-28 de junho de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:

A Lua está precisamente onde disse o escriba, a cerca de 5 graus abaixo da estrela beta de Libra.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 6-7 de julho de 588 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:

A Lua está muito distante da posição mencionada, a mais de 11 graus, o que afasta qualquer possibilidade deste ser o dia correto. Em virtude desse grau de afastamento à oeste, a configuração acima poderia até ser descrita assim:

"A Lua ficou atrás de Virgem no céu."

Isso mesmo. A Lua está muito mais próxima de Virgem do que de Libra, conforme pode ser visto abaixo:

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, perfeitamente.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 07

“Noite do dia 10, primeira parte da noite, a Lua estava 7 graus diretamente acima da alfa de Escorpião.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 29-30 de junho de 568 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:

A Lua está exatamente como foi informado pelo observador, numa posição cerca de 7 graus acima de Antares, que é a estrela alfa de Escorpião. A distância de aproximadamente 8 graus que mostra o Starry Night é aceitável e está próxima da esperada. Além do mais, como já foi dito, lembre-se que os instrumentos utilizados pelos antigos escribas não eram tão precisos quanto os de hoje.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 9-10 de julho de 588 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, para o começo da noite obtém-se o seguinte:

A Lua está acima de Escorpião porém a uma distância de quase 11 graus de Antares, quase 4 graus mais longe. Portanto, não está de acordo com o relato.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 08

“Dia 15, um deus foi visto com o outro; do nascer do Sol ao pôr da Lua [passaram-se] 30 min. Uma eclipse Lunar que foi omitido.”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 4-5 de julho de 568 a.C.

"Um deus visto com outro" significa que a Lua e o Sol estavam visíveis no céu ao mesmo tempo, em horizontes opostos. Ajustando-se o programa para 5 de julho, observa-se que o Sol está nascendo às 05:05 h:

No mesmo momento, a Lua está prestes a se pôr:

Logo, confere com o relato de que "um deus foi visto com o outro". Agora resta conferir por quanto tempo isso aconteceu, desde o nascer do Sol ao pôr da Lua. O último filete visível da Lua se deu às 05:23 h, ou seja, às 05:24 h a Lua já tinha se posto totalmente, conforme mostra o programa:


Recurso anti-luminosidade ativado

De acordo com o programa, o início exato do nascer do Sol foi às 04:51 h, como mostra a imagem abaixo:

Portanto, o tempo em que a Lua e o Sol foram vistos juntos foi de aproximadamente 33 minutos. Duração próxima da relatada na tabuinha. Caso considere-se de quando o Sol já tinha saído totalmente do horizonte (às 05:05 h), o tempo será de 18 minutos. Qualquer uma das duas situações se ajusta, devido às margens de erro envolvidas. Tal como ocorre em outros casos, é preciso lembrar-se que os instrumentos utilizados pelos antigos babilônios não eram tão precisos quanto os de hoje. Isto deve ser levado em consideração, ainda mais que, na verdade, eles não mediam o tempo e sim o ângulo (em graus) percorrido pelos astros na abóboda celeste.

Eclipse

O diário informou também que houve um eclipse omitido. Isto significa que esse eclipse não pôde ser observado no céu de Babilônia, porque a Lua já estava abaixo do horizonte.

A melhor maneira de saber em que dia e horário esse eclipse aconteceu é mudar o local de observação, da Terra para a Lua. Ou seja, escolher a visão que um observador da Lua teria. Este hipotético observador veria a Terra passar "por cima" do Sol (o que na Terra é visto como eclipse). Escolha como data inicial a meia-noite do dia 4 de julho. Mas faça isto antes de mudar a "observação" para a Lua, pois quando a mudança for feita a data mostrada será em "Universal Time" (UT).

Para mudar o local de "observação" vá para "Go \ Viewing Location" e no "View From" escolha "Moon" (Lua), ao invés de "Earth" (Terra). Aperte primeiramente o botão o> e depois o botão > ("play"), no cabeçalho do programa. Ao executar este passo, você verá uma animação que mostra o movimento do Sol e da Terra no céu, vistos a partir da Lua. Observe a trajetória da Terra durante 24 horas. Veja como ela se move até o Sol. Quando ela ficar acima do Sol aperte o "stop" (botão com o quadradinho).

Às 10:54 h (UT) o eclipse mencionado na tabuinha será visto. É um eclipse parcial que aconteceu no dia 4 de julho de 568 a.C., cujo encobrimento máximo ocorreu por volta das 14 horas:


Observa-se a Terra passando parcialmente "por cima" do Sol

Percebe-se que, na verdade, o eclipse aconteceu poucas horas antes do início do 15º dia do mês 3 (simanu). É provável que este detalhe tenha sido mencionado, entretanto não é possível saber porque esta parte da tabuinha cuneiforme está danificada. No mesmo momento, lá em Babilônia o Sol não pode ser visto com a Lua, pois ela está abaixo do horizonte oposto:

A única maneira de ver esse eclipse seria ir para outro lugar da Terra. Na Austrália, por exemplo. Vá em "Go \ Set Home Location" e em "LookUp" escolha "Sydney - Australia". Aperte as teclas CTRL e F ao mesmo tempo para aparecer uma caixa de localização. Escreva nela a palavra "moon" (Lua) e aperte "Enter". O programa irá localizar a Lua e mostrá-la de perto:


As cores do fundo da tela e da "mordida" da Terra foram modificadas para realçar o eclipse

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 14-15 de julho de 588 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, observa-se que no dia 15 de julho a Lua está prestes a se pôr às 04:30 h:

O Sol só irá nascer às 05:05 h:


Recurso anti-luminosidade ativado

Neste horário a Lua já se pôs, 17 minutos antes, e ela não pôde mais ser vista no horizonte. Portanto, esse dia não se ajusta ao relato do diário.


A Lua já se pôs quando o Sol estava nascendo

Eclipse

Às 05:20 h do dia 15 de julho de 588 a.C. houve também um eclipse parcial da Lua não observado no céu de Babilônia, conforme mostra a imagem abaixo:

No entanto, visto que a outra descrição não confere com esse dia ("um deus visto com o outro"), então a data está errada para o evento descrito no diário.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 09

“Mês 11, ... a Lua se tornou visível na constelação de Peixes; do pôr-do-sol ao pôr da Lua: [passaram-se] 58 minutos; ... Nessa hora, Júpiter estava a 2 graus do cotovelo de Sagitário ... ”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 12-13 de fevereiro de 567 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, às 17:55 h, obtém-se o seguinte:


Recurso anti-luminosidade ativado

Realmente, a Lua está na constelação de Peixes e, devido a boa distância que está do Sol (15 graus), é possível vê-la antes mesmo de anoitecer. Depois que o Sol se põe é possível vê-la melhor ainda. Do pôr do Sol até a Lua se pôr totalmente transcorreu um tempo de aproximadamente 57 minutos. A tábua informa que foram 58 minutos. Mas se a medição deve ser entre o início do pôr do Sol e o fim do pôr da Lua, então o tempo mostrado pelo programa será maior. Por volta de 69 minutos. Neste caso, as pequenas margens de erro (do software e da instrumentação babilônica) devem ser levadas em consideração. De qualquer modo, em ambos os casos, a simulação se ajusta bem à descrição feita no documento.


Fim do pôr da Lua

Júpiter em Sagitário:

No momento em que a Lua se pôs, Júpiter não estava visível no céu. Já tinha descido. Mas realmente ele estava em Sagitário "nessa hora". Conhecendo-se a trajetória desse planeta em relação ao movimento das constelações, seria possível deduzir sua posição. Para constatar isto, basta pedir ao programa para mostrar uma visão mais ampla, a partir da Lua, por exemplo:

Por outro lado, se o "nessa hora" mencionado no registro for um momento em que Júpiter realmente estava visível no céu é preciso avançar ou retroceder no tempo, e observar como o planeta estava posicionado enquanto ainda estava escuro. De uma maneira ou de outra, em ambas as situações a simulação confirma que o dia está correto, conforme mostram as imagens abaixo:


Júpiter em Sagitário às 18:52 h, distante 2 graus da estrela "pi" de Sagitário


Júpiter em Sagitário às 18:52 h, distante 11 graus do aglomerado M25

A tabuinha informa que Júpiter estava a 2 graus do "cotovelo de Sagitário". Este "cotovelo" foi identificado por P. V. Neugebauer como sendo o aglomerado de estrelas ao redor da estrela "pi" de Sagitário. A distância entre Júpiter e a própria estrela "pi" de Sagitário, segundo o software, era cerca de 2 graus, distância não muito diferente das estrelas ao redor de Albaldah. Mas se o referido aglomerado for um daqueles do catálogo de Messier, então Júpiter estava distante 11 graus de M25 (o aglomerado mais próximo de "pi"). De qualquer forma, o cenário acima está muito parecido com o que foi descrito pelo escriba. Não é razoável achar que a distância maior em relação ao relato afeta a qualidade da simulação, ainda mais que foi preciso aceitar a suposição do Dr. Neugebauer, que pode estar certa ou não.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 21-22 de fevereiro de 587 a.C.

Começando a simulação pela posição de Júpiter, nota-se que o dia acima não pode ser aquele mencionado pela tabuinha, pois Júpiter não está na constelação de Sagitário:


Júpiter não aparece em Sagitário

Na maior parte do tempo, Júpiter ficou no céu durante o dia e não era visível a observadores. Só apareceu no final da tarde e ficou observável até oito horas da noite. No entanto, em nenhum momento ele esteve em Sagitário. Estava em Áries:

Diante da constatação acima, nem seria preciso verificar a outra informação do diário, pois já ficou comprovado que o dia está errado. Mesmo assim, pode-se perceber que a Lua não podia ser vista em quase toda a tarde, porque estava muito próxima do Sol (a cerca de 9 graus).


Cenário fora da descrição da tabuinha, devido à pequena distância entre os astros

Portanto, estar a Lua em Peixes torna-se irrelevante neste caso, tanto por sua invisibilidade aos observadores em Babilônia quanto por Júpiter não estar em Sagitário.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 10

“Mês 12, dia primeiro do mês ... a Lua se tornou visível atrás de Áries enquanto o Sol ficou lá; do pôr-do-sol ao pôr da Lua: 25 graus [100 minutos], calculado; ”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 14-15 de março de 567 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Nota-se que realmente a Lua está "atrás" de Áries, conforme o relato do escriba. Agora resta contar o tempo entre o pôr do Sol e o pôr da Lua.

Usando o recurso "magnify" no Sol, observa-se que a iminência dele começar a se pôr ocorre aproximadamente às 18:03 h, conforme mostra o programa:

Às 19:50 h, a Lua já tinha descido totalmente (o que pode ser constatado também com o recurso "magnify"):


Cerca de 107 minutos após o início do pôr do sol a lua já se pôs totalmente

Portanto, em tal cenário, entre o pôr do Sol e o pôr da Lua demorou cerca de 107 minutos. Tempo bastante próximo do que foi relatado.

Mas se a contagem começar no instante em que o Sol se pôs totalmente (aproximadamente às 18:06 h), o tempo total entre a descida dos dois astros diminuirá para cerca de 104 minutos. O que fica ainda mais próximo do que foi dito na tabuinha.

Dica: se as árvores atrapalharem a visualização, elas podem ser retiradas em "Sky Settings", escolhendo a opção "Show flat horizon".

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 24 de março de 587 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

O cenário está de acordo com o relato da tabuinha. Então:

1) Considerando o instante em que o Sol "enconstou" no horizonte (aprox. às 18:09 h) até o momento em que a Lua se pôs totalmente (às cerca de 19:39 h) transcorreu um tempo de aproximadamente 90 minutos.

2) Considerando o tempo entre o instante em que o Sol se pôs totalmente (aprox. às 18:12 h) até o momento em que a Lua desceu completamente (aprox. às 19:39 h) transcorreu aproximadamente 87 minutos.

Portanto, a simulação é aceitável e está próxima do que foi dito na tabuinha.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, com uma pequena margem de erro.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Sim, com uma pequena margem de erro.

Observação Lunar Nº 11

“Na noite do dia 2, a Lua estava 8 graus diretamente abaixo da n de Touro”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 15-16 de março de 567 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Observa-se que a Lua está onde foi dito na tábua cuneiforme, cerca de 8º abaixo da n de Touro, apesar de não estar tão "diretamente abaixo", pois está a sudoeste de Alcione.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 24-25 de março de 587 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

A Lua está quase 11º a noroeste de Alcione, ou seja, está acima da n de Touro. Portanto, mesmo a Lua e Alcione estando próximas entre si, estão em uma posição diferente da que foi registrada.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

Observação Lunar Nº 12

“Na noite do dia 7, a Lua foi circundada por um halo; Câncer e a alfa de Leão ficaram nele...”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 20-21 de março de 567 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Observa-se que a Lua está entre Câncer e Regulus (a alfa de Leão), conforme informado no diário.

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 29-30 de março de 587 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Observa-se que a Lua também está entre Câncer e Regulus (a alfa de Leão), conforme informado no diário. O único detalhe diferente neste cenário é que o planeta Saturno aparece em conjunção com a Lua. O que talvez tivesse chamado atenção do escriba, caso este fosse o céu com o qual se deparou naquela noite do dia 7 de adaru, do 37º ano de Nabucodonosor...

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Sim.

"E a Lua foi circundada por um halo; Câncer e a alfa de Leão ficaram nele"

Na verdade, o diário astronômico informa que a Lua ficou entre o "presépio" e a alfa de Leão (que é a estrela Regulus). "Presépio" ou "Colméia" é um aglomerado aberto que fica na constelação de Câncer, e é conhecido desde os tempos antigos. Atualmente, é identificado no catálogo de Messier por M44. Sobre esse aglomerado, certo site informa o seguinte:

"Os aglomerados abertos são objetos que formam o esqueleto de nossa galáxia. Por isso quando estivermos observando um aglomerado aberto, estaremos observando uma região do plano galáctico, mas especificamente nos braços espirais. As estrelas que formam estes objetos são estrelas jovens e bastante quentes, em geral, por isso não é raro observar nebulosidades ao redor de aglomerados destes tipos, pois podem estar associados a regiões imersas a material ionizado, devido à alta temperatura, como na Nebulosa da Águia, M16." - Observatório Astronômico da Universidade Federal do Espírito Santo.


Aglomerado aberto do Presépio (M44)

Presépio está na constelação de Câncer e não faz parte da constelação de Leão. De modo que ele não poderia causar um efeito que abrangesse essas duas constelações. Embora a nebulosidade característica do aglomerado da Colméia possa ter causado algum efeito no avistamento da Lua, o mais provável é que a descrição do escriba se referia ao halo refrativo que pode se formar ao redor da Lua, sobre o qual a Enciclopédia Barsa diz:

"Fenômeno atmosférico caracterizado pelo aparecimento de um ou mais anéis luminosos em torno do Sol ou da Lua. Provocado pela refração da luz do astro ao atravessar cristais de gelo em nuvens de zonas altas da atmosfera."

Visto que tais halos podem chegar a mais de 40 graus, então é perfeitamente possível que o halo tenha coberto as constelações de Leão e Câncer. De fato, na linha seguinte da tabuinha o escriba informa que "o halo circundou Câncer e Leão", conforme ilustrado na foto a seguir:

Observação Lunar Nº 13

“Dia 12, um deus foi visto com o outro; do nascer do Sol ao pôr da Lua [transcorreram] 6 minutos”

Dia do evento de acordo com os especialistas: 25-26 de março de 567 a.C.

Os "deuses" acima mencionados são o Sol e a Lua. Ajustando-se o programa para esta data, observa-se que às 06:09 h do dia 26 de março o Sol está nascendo a leste e a lua se pondo à oeste. Se for considerado até o último filete visível da Lua, antes dela se pôr totalmente, o tempo total em que ambos eram visíveis foi de uns 3 ou 4 minutos. Apesar de ser uma duração menor que aquela indicada na tabuinha, devido às margens de erro envolvidas, certamente a simulação se ajusta à descrição de que ambos foram vistos juntos (um no poente e outro no nascente). Mais uma vez, a diferença é resultado das margens de erro envolvidas, especialmente a margem que se refere ao grau de precisão dos instrumentos dos babilônios, já que o tempo envolvido é tão pequeno.

Observação às 06:09 h:


Lua se pondo no oeste...


... e o Sol nascendo no leste, no mesmo instante

Observação às 06:12 h:


Lua prestes a se pôr totalmente...


... com o Sol quase totalmente levantado

Dia do evento de acordo com a Torre de Vigia: 4-5 de abril de 587 a.C.

Ajustando-se o programa para esta data, obtém-se o seguinte:

Percebe-se que a Lua já está se pondo às 04:57 h, quase uma hora antes do sol nascer:


O sol está nascendo às 05:51 h

No momento em que o sol nasce, a lua já se pôs há quase uma hora, e já está abaixo do horizonte.

Portanto, se a Lua e o Sol não são vistos juntos no céu no início da manhã, o dia não está correto.

Conclusão:

A data dos especialistas se ajusta ao relato do diário? Sim, perfeitamente.

A data da Torre de Vigia se ajusta ao relato do diário? Não.

(fim das simulações)

Conforme constatado no Starry Night, aquilo que as simulações acima indicam se resume ao seguinte quadro:

Notas da tabela:

a - Tornou-se aceitável recuando-se um dia. O que está em conformidade com que Abraham Sachs e outros especialistas indicaram em suas traduções do diário, de que o escriba errou o dia que registrou. Ao invés de escrever "8", ele escreveu "9". Provavelmente, ele se confundiu com dia e achou que estava no dia 9. O erro não foi devido à semelhança dos caracteres, pois o escriba usou uma variante do número 9 (tišit) que não podia ser confundida com o número 8. Ele usou três cunhas em sentido oblíquo ao invés de 9 cunhas verticais.*

b - Só se ajustou parcialmente porque a data foi "forçada", mas ela não é a data correta. Veja os comentários na simulação. Se a data correta fosse usada, a simulação não se ajustaria.

c - É dito na tabuinha que a Lua estava próxima da estrela beta de Virgem, porém ela estava próxima da gama. Se o escriba errou e devia ser a estrela gama, então a observação se ajusta.

"8" e "9" na escrita cuneiforme

Para facilitar o entendimento do texto da VAT 4956, as seguintes convenções foram adotadas no texto aqui apresentado:

1 cúbito = 2 graus

2 cúbitos = 4 graus

2,5 cúbitos = 5 graus

3,5 cúbitos = 7 graus

Pata do leão = beta de Virgem

Andorinha = constelação de Peixes

Presépio = constelação de Câncer (na verdade, é um aglomerado aberto que fica nesta constelação)

As palavras à esquerda (em negrito) são os termos que eram utilizados pelos escribas babilônios. Já o que aparece no lado direito são os devidos significados desses termos. Na tradução utilizada nas simulações, optou-se por se usar o significado das expressões utilizadas na tabuinha, ao invés do antigo vocabulário. Portanto, lembre-se que a linguagem original utilizada no diário é outra. Caso você queira ver o texto com o linguajar original clique na imagem da tabuinha que está no topo desta página.

Foram feitas também as seguintes equivalências:

1,3 graus = 6 minutos

20 graus = 80 minutos

25 graus = 100 minutos

CONCLUSÃO

7. O verdadeiro motivo porque não abandonam o ano 607 a.C.

Conforme percebeu-se nos comentários precedentes, existem muitas informações importantes que não foram abordadas na série publicada na Sentinela sobre o ano da destruição de Jerusalém (A Sentinela, 01/10/11 e 01/11/11). Na verdade, seria necessário um livro para a Torre de Vigia tratar o assunto da maneira que ele merece. No entanto, dificilmente ela fará isso um dia, pois, à medida que seus escritores tentassem se aprofundar no tema, ficaria evidente até mesmo para eles que não há fundamento bíblico nem histórico para a data 607 AEC*. O que já foi comentado aqui é suficiente para perceber isso. Além do mais, é fato notório que a maioria das "Testemunhas de Jeová" não se interessa por cronologia neobabilônica, de modo que as contradições não explicadas pela Torre de Vigia cairão, por fim, no esquecimento. Mas os que desejarem se aprofundar nessa matéria é altamente recomendado que leiam o livro "Tempos dos Gentios Reconsiderados" (parcialmente disponível aqui), do escritor sueco Cal Olof Jonsson.

* E isso realmente já aconteceu com um deles, o ex-membro do "Corpo Governante" Raymond Franz. Na década de 70, ele recebeu um farto material enviado por Carl Olof Jonsson junto com a árdua tarefa de refutá-lo. Devido ao que leu, Franz se convenceu de que a data 607 AEC está errada. Com o tempo, Raymond Franz passou a discordar de outros assuntos. Posteriormente, foi excomungado como "queima de arquivo (não 'oficialmente')". Em seguida, lançou os livros Crise de Consciência e Em Busca da Liberdade Cristã.

Qual o verdadeiro motivo para a Torre de Vigia não abandonar 607 AEC?

Em 1844, o reverendo Edward Bishop Elliott, titular da Igreja de Marcos, em Brighton, e graduado no Trinity College, de Cambridge, publicou o livro Horae Apocalypticae, onde discorria sobre temas proféticos e cronológicos. Ele foi provavelmente o primeiro comentarista a publicar uma aplicação dos "sete tempos dos gentios" que leva ao ano de 1914. Neste caso, para ele os "sete tempos" deveriam começar no ano de ascensão do monarca Nabucodonosor, de Babilônia. Erroneamente, ele achou que o ano de ascensão de Nabucodonosor fosse o ano 606 a.C. Somando 2.520 anos a 606 concluiu que os "sete tempos dos gentios" terminariam em 1914. Disse ele:

"Naturalmente, se for calculado desde a própria ascensão de Nabucodonosor e invasão de Judá, em 606 A.C., o fim será bem mais tarde, em 1914 A.D." - Horas Com o Apocalipse, Vol. III (1844), p. 1429, de E. B. Elliott.

Nesse cálculo ele cometeu um outro erro, pois não existe "ano zero" (o que vem depois do ano 1 a.C. é o ano 1 d.C, não existe um ano de "ligação"). Corrigindo-se esse erro o término do cálculo feito por Elliott seria, na verdade, em 1913.

(fac-símile publicada em Tempos dos Gentios Reconsiderados, de Carl Olof Jonsson)

Os quatro volumes da obra de Elliott podem ser adquiridos nos links abaixo:

Horae Apocalypticae , parte 1 (18,5 Mb, pdf).

Horae Apocalypticae , parte 2 (18,5 Mb, pdf).

Horae Apocalypticae , parte 3 (15,8 Mb, pdf).

Horae Apocalypticae , parte 4 (21,6 Mb, pdf).

Então, para os 2.520 anos terminarem em 1914, seria necessário recuar o ponto de partida para 607 a.C. E assim foi feito posteriormente por aqueles que se apegaram à teoria dos "sete tempos dos gentios". Foi o caso do adventista Nelson Barbour e outros. Os "Estudantes Internacionais da Bíblia", como eram chamadas as "Testemunhas de Jeová" (eles mudaram de nome na década de 30), aprenderam sobre os "sete tempos dos gentios" no contato que mantiveram com Barbour, conforme já admitiu a Torre de Vigia em algumas publicações:

"Em 1844, um clérigo britânico, E. B. Elliott, chamou atenção a 1914 como possível data para o fim dos 'sete tempos' de Daniel, capítulo 4. Em 1849, Robert Seeley, de Londres, abordou o assunto de modo similar. Joseph Seiss, dos Estados Unidos, indicou 1914 como data significativa na cronologia bíblica numa publicação editada por volta de 1870. Em 1875, Nelson H. Barbour escreveu em sua revista Herald of the Morning que 1914 marcava o fim de um período que Jesus chamou de 'tempos designados das nações'." - Despertai!, 8/11/1994, p. 10.

"Em 1877, Russell juntou-se a Nelson H. Barbour na publicação do livro Três Mundos e a Colheita Deste Mundo. Este indicava que o fim dos Tempos dos Gentios, em 1914, seria precedido por um período de quarenta anos, a começar com uma colheita de três anos e meio a partir de 1874 E. C." - A Sentinela, 15/02/1975, p. 122.

Mas para Nelson Barbour e os "Estudantes da Bíblia" o ponto de partida dos "sete tempos dos gentios" deveria ser o ano da destruição de Jerusalém, e não o ano de ascensão de Nabucodonosor. Consequentemente, visto que acreditavam que o exílio judaico durou 70 anos, a destruição de Jerusalém deveria ser mudada para 607 a.C., descartando-se a data informada pelos historiadores (587 a.C.). Ou seja, mudaram uma data bem estabelecida por simples "decreto".

Uma vez criada essa "cronologia bíblica", eles estavam prontos para iniciar suas especulações proféticas. Por exemplo, predisseram que todos os governos do mundo seriam eliminados pelo reino de Deus em outubro de 1914. Esta foi a primeira de uma série de datas que eles já marcaram para o "fim do mundo" (o que não fazem mais hoje). O ano de 1914 passou e o Armagedom não veio. Entretanto, aconteceu algo realmente significativo em 1914. Em agosto daquele ano começou a Primeira Guerra Mundial. Ou seja, miraram no que viram e acertaram no que não viram. Desde então se apegam ao discurso de que 1914 foi o início das "dores de aflição" da humanidade.

A Torre de Vigia não mede esforços para encontrar falhas ou contradições nas fontes arqueológicas que dão suporte à verdadeira data da destruição de Jerusalém, 587 a.C. O motivo dela não abandonar a especulação dos "sete tempos dos gentios", como já foi feito pelos adventistas*, é que 1914 se tornou um divisor de águas em sua história. Um mito, na verdade. Eles criaram uma série de outras especulações associadas a esta data. Dizem que 1914 é o início dos "últimos dias". Que nesse ano Jesus olhou para o mundo e reprovou todas as religiões, exceto as "Testemunhas de Jeová", o que faz delas os "únicos cristãos verdadeiros" da atualidade. Além disso, Jesus teria designado os líderes da Torre de Vigia seus únicos representantes na Terra, através dos quais ele ensinaria a humanidade.

* Quando o primeiro presidente da Torre de Vigia morreu, Charles Taze Russell, muitas congregações dos "Estudantes da Bíblia" não aceitaram o novo presidente. Por isso, se desligaram da Torre de Vigia e formaram suas próprias associações. Algumas delas existem até hoje, e seus integrantes ainda chamam a si mesmos de "Estudantes da Bíblia". São, portanto, um outro grupo que também acredita na doutrina dos "sete tempos dos gentios".

Hoje em dia, as "Testemunhas de Jeová" acreditam que seu "Corpo Governante", sediado em Nova Iorque, é o "escravo fiel e discreto" usado por Jesus Cristo para comandar as demais "Testemunhas", chamadas de "outras ovelhas" ou "grande multidão", que chegam hoje a milhões de pessoas. Estas últimas não devem criar expectativas para irem ao céu, pois o lugar delas é aqui na Terra, quando ela for transformada em um paraíso (o mesmo vale para cristãos de outras épocas que não foram selecionados para integrarem os 144.000 “ungidos”). Até a implantação do paraíso terrestre, as "outras ovelhas" devem se sujeitar às "orientações" que "Jesus Cristo" passar através da "organização de Jeová", cujo núcleo terrestre está em Nova Iorque, nos corredores da Torre de Vigia. Os desobedientes a essas orientações "teocráticas" ou os que renegarem à Torre de Vigia ("apóstatas" e opositores) serão destruídos no Armagedom. Isto também se aplica aos demais da humanidade que não estão associados à Torre de Vigia. Todos eles serão eliminados por Deus. Resumidamente, essas são as “boas novas” pregadas pelas “Testemunhas de Jeová”...

Portanto, no final das contas, o que está realmente envolvido é a autoridade eclesiástica que o "Corpo Governante" tem sobre as "Testemunhas de Jeová". É por isso que eles não querem abandonar o ano 607 a.C., pois se fizessem isso o mito sobre 1914 desmoronaria e todas as especulações proféticas associadas a ele. Seria o fim da pretensa autoridade que dizem ter sobre os cristãos, a não ser que a fértil imaginação de seus escritores produzisse uma "ótima" e "convincente" explicação às "Testemunhas de Jeová" para uma mudança assim tão radical. Comparando, seria como se o "Papa" chegasse para os católicos e dissesse, em comunicado oficial da Igreja, que o "trono de Pedro" é um mito e que a "Igreja Católica" não tem origem divina, mas mesmo assim os católicos deveriam aceitá-lo na função de "vigário de Cristo" na Terra.

É pela mesma razão que o "Corpo Governante" demoniza os que mostram as falhas de seu ensino. Implantam um medo mórbido na mente dos seus seguidores a respeito dos que escrevem refutando a crononologia da Torre de Vigia. As "Testemunhas de Jeová" temem consultar essas informações, pois foram ensinadas que são matérias inspiradas por demônios, e que servem aos interesses do Diabo. E os que lêem tais refutações são expulsos da religião pelos seus "pastores", caso sejam descobertos nessa "prática pecaminosa".

Consideração final

As evidências contra a data 607 a.C. são tão gigantescas que se tudo fosse estudado ninguém teria coragem de defendê-la. Só mesmo os líderes da Torre de Vigia tentam esse feito, numa renitente e orgulhosa teimosia. Rolf Furuli incorporou perfeitamente esse comportamento. Sua “Cronologia de Oslo” demonstrou isso.

Pelo que foi apresentado até aqui, percebemos o quão irresponsável é a declaração abaixo:

“Assim, esses dados apoiam o ano de 607 AEC como a data da destruição de Jerusalém – exatamente como a Bíblia indica.” – A Sentinela, 01/11/2011, p. 27.

Trata-se de uma afirmação enganosa, sem nenhum respaldo, pois:

1) Os dados gerais tirados das tabuinhas não apoiam de maneira alguma o ano 607 para a destruição de Jerusalém. Pelo contrário, o contradizem, conforme pode ser visto adicionalmente em outros textos publicados em www.adelmomedeiros.com (Artigos \ História Universal).

2) A Bíblia não fornece data alguma. Diz apenas que Nabucodonosor destruiu Jerusalém em seu 18º ano de reinado. Sem as tabuinhas cuneiformes e as fontes históricas não é possível saber que ano foi esse.

Além disso, o ano 587 não contradiz absolutamente nada do que a Bíblia menciona sobre o exílio dos judeus, e está em harmonia com certos detalhes nunca destacados nas publicações da Torre de Vigia. Crer na data 587 AEC para a destruição de Jerusalém não é renegar a Palavra de Deus, como a Torre de Vigia insinua. Nem tampouco renegarão o Cristianismo aqueles que optarem por crer no ano 587. De fato, acreditar ou não nessas datas não tem a menor importância para a salvação, ao contrário do que é ensinado às "Testemunhas de Jeová", através daquelas estórias de “1914”, “últimos dias”, “escravo fiel e discreto”, "apostasia" etc. Para ser um cristão verdadeiro basta seguir os princípios abaixo:

“Jesus disse-lhe: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem exercerem mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e exerce fé em mim nunca jamais morrerá.” – João 11:25-26.

“Vedes que o homem há de ser declarado justo por obras e não apenas pela fé..... Deveras, assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta.” – Tiago 2:24, 26.

“Se algum homem achar que é adorador formal, contudo não refrear a sua língua, mas prosseguir enganando seu próprio coração, a forma de adoração de tal homem é fútil. A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua tribulação, e manter-se sem mancha do mundo.” – Tiago 1:26-27.

“Por meio disso saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor entre vós.” – João 13:35.

“João disse: 'Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não anda conosco.' Jesus disse-lhe: 'Não lhe proíbam. Pois, quem não está contra vocês, está a favor de vocês'.” – Lucas 9:49, 50, Edição Pastoral.

“[Jesus disse:] Pois, onde há dois ou três ajuntados em meu nome, ali estou eu no meio deles.” – Mateus 18:20.


"Eu estou aqui, junto de vocês"

Somente os textos acima são suficientes para desmontar as pretensões dos líderes da Torre de Vigia, resultantes das especulações proféticas relacionadas ao ano de 1914, que levam os seus seguidores a acreditar que fazem parte da "única religião verdadeira" e que são "os verdadeiros cristãos aprovados por Jesus Cristo", e que "todos os outros que se dizem cristãos, são, na verdade, falsos cristãos". Mesmo que as "Testemunha de Jeová" não saiam falando abertamente tais conceitos, é exatamente assim que elas pensam.

Apesar de ser muito difícil uma pessoa que está no rol de seguidores da Torre de Vigia admitir, o que acontece é que a liderança mundial das "Testemunhas de Jeová" mascara a realidade para elas, deixando-as num estado permanente de “ignorância esclarecida”. Com textos bem escritos e atraentes, tocam na superfície dos assuntos, mas não deixam seus seguidores analisá-los com PROFUNDIDADE nas fontes realmente confiáveis. Os que resolvem fazer isso correm o risco de serem excomungados (desassociados). É uma lástima!

APÊNDICE:

A. As Bíblias Impressas pela Torre de Vigia que Traduzem Corretamente Jeremias 29:10

Abaixo estão algumas edições da Bíblia produzidas pela Torre de Vigia que traduzem corretamente Jeremias 29:10, que menciona os 70 anos de supremacia de Babilônia:

1) Tradução do Novo Mundo em sueco (2003):

2) Tradução do Novo Mundo em dinamarquês (1993):

3) A Bíblia no Inglês Vivo (1972):

4) Versão Padrão Americana (1944):

Observação:

Os versículos precedentes de Jeremias 25:10-12 informam que Judá e as nações circunvinzinhas 'serviriam ao rei de Babilônia por 70 anos', indicando que os setenta anos seriam um período de servidão das nações à Babilônia e não o tempo de exílio dos judeus. Esta é uma conclusão tão óbvia que a Tradução do Novo Mundo de 1961, em inglês, possui no cabeçalho da página onde aparece o capítulo 25 a seguinte descrição:

"70 anos de servidão".

Em seguida é dito que após essa servidão Babilônia cairia. Isso realmente aconteceu. No ano 539 AEC os 70 anos de servidão das nações à Babilônia terminaram, quando ela caiu diante dos persas. Por isso os 70 anos devem acabar em 539 AEC, pois se eles terminassem em 537 Babilônia teria caído dois anos antes do prazo dado por Deus.

O cabeçalho acima se refere ao versículo 11, do capítulo 25. Portanto, a descrição feita no cabeçalho está correta, pois a passagem menciona a servidão das nações, e não o exílio judaico. No entanto, apesar do trecho não se referir ao exílio, em edições posteriores da Tradução do Novo Mundo o cabeçalho foi alterado para "70 anos de exílio".


(Já na edição em português, houve um acréscimo no cabeçalho, pois ele diz: "Preditos 70 anos de exílio em Babilônia")

Portanto, este precedente mostra que dificilmente a Torre de Vigia irá ampliar para outros idiomas a melhoria que foi feita em Jeremias 29:10 nas edições sueca e dinamarquesa da Tradução do Novo Mundo, pois a tradução correta desse versículo contradiz o conceito que o "Corpo Governante" das "Testemunhas de Jeová" tem dos 70 anos. É mais fácil ele obrigar que essas duas versões se alinhem com a edição em inglês, que é a "Bíblia original" das "Testemunhas de Jeová" (as versões do Novo Mundo em outras línguas são traduzidas da versão em inglês). O tempo dirá qual caminho os tradutores das filiais da Torre de Vigia vão seguir, em edições futuras.

Interessante que, mesmo com essa alteração do cabeçalho supracitado, não se deixa de perceber em outros cabeçalhos da Tradução do Novo Mundo que o foco da profecia dos 70 anos é quase sempre o domínio de Babilônia sobre as nações, e não o exílio dos judeus. Por exemplo, na página onde há o capítulo 27 um cabeçalho da Tradução do Novo Mundo em português diz: "Zedequias deve sujeitar-se" à Babilônia. Lembre-se que nessa ocasião Jerusalém ainda não havia sido destruída, porém o período de sujeição das nações ao rei de Babilônia já tinha começado, anos antes.

B. O ano de 609 a.C foi o Início dos Setenta anos de Babilônia Segundo os Historiadores

01. “Fim da Assíria. - .... Então, depois da queda de Nínive em 612, a queda de Haran em 610 e a tentativa de reconquistá-la mais tarde em 609, a Assíria deixou de existir.” – Encyclopedia Britannica, Chicago, 1964, pp. 966, 967.

02. “Em 745, Teglar-Falasar III (745-727) fez-se proclamar rei. Sua dinastia conservaria o trono até a queda de Nínive em 612 e a ruína definitiva do poderio assírio em 609.” – Enciclopédia Delta Larousse, Rio de Janeiro, Editora Delta S.A., 1967, p. 694.

03. “[O] último rei [assírio], Assurballit II, foi definitivamente derrotado em 609 a.C. Sobre as ruínas da Assíria ergueu-se o último dos grandes impérios semitas do Oriente, o Novo Império Babilónio, que com Nabucodonosor II (604-562 a.C.) teve o seu maior esplendor, mas a que os persas de Ciro puseram termo em 539.” – Dicionário de História Universal, de Mario Matos e Lemos, Portugal, Editorial Inquérito, 2001, verbete “Assíria”, pp. 102, 103.

04. “A partir de 609, nada mais se sabe do último soberano desse império [assírio] e ficaria, a partir de então, a Babilónia a presidir, não só ao destino da Assíria, mas também de todo o Próximo Oriente.” – Civilizações Pré-Clássicas, António Augusto Tavares, Portugal, Universidade Aberta, 1995, p. 294.

05. “A grande maioria dos textos assírios, no entanto, pertence ao Período Neo-assírio (1000-609 a.C.) e provêm dos arquivos reais de Nínive e Kal-hu.” – Lendo o Passado, J. T. Hooker (introd.), São Paulo, Editora Melhoramentos, 1996, p. 37.

06. “Um último rei [assírio], Assur-Uballit II (612-609 a.C.) reinou por um breve tempo na capital provincial de Harã.... mas foi expulso pelos babilônios.” – Dicionário da Bíblia, de Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan (org.), Rio de Janeiro, vol. 1, Jorge Zahar Editor, 2001, p. 15.

07. “No mês Du’uz (junho-julho)(609 a.C) o rei da Assíria obteve um grande exército egípcio e partiu contra Harran para conquistá-la... Até o mês Ulul (agosto-setembro) ele lutou contra a cidade, mas não conseguiu conquistá-la.” – E a Bíblia Tinha Razão, Werner Keller, São Paulo, 8ª edição, 1964, Editora Melhoramentos, p. 240; citação de uma tabuinha cuneiforme do Museu Britânico, traduzida pelo assiriólogo C. I. Gadd.

08. “Os assírios foram definitivamente derrotados [por Babilônia] em 609 a.C. e a Assíria desapareceu da história.” – Dicionário Bíblico, de John L. Mackenzie, São Paulo, 2001, Ed. Paulus, p. 90.

09.Em 609, os babilônios finalmente derrotaram os Assírios e iniciaram o estabelecimento de seu controle sobre a Fenícia, a Síria e a Palestina.” – A História da Humanidade, Vol. III, J. Herman & E. Zürcher, 1996, Paris, London, New York, UNESCO, p. 117.

10. “[Os] caldeus (denominados também “novos babilônicos”) – [dominaram a região] de 609 a 539 a.C.” – História, uma Abordagem Integrada, 1ª edição, de N. L. de Petta e Eduardo A. B. Ojeda, São Paulo, Editora Moderna, 1999, p. 8.

11. “O fim da Assíria (609).... O Egito, aliado da Assíria desde 616, correu em socorro de Assurbalit, mas já era muito tarde. A cidade de Harran não pôde ser reconquistada. O império neo-assírio estava vencido.” – Israel e Judá, Textos do Antigo Oriente Médio, São Paulo, Ed. Paulinas, 1985, p. 81.

12. 609. – Derrota definitiva do último rei assírio. Necau vence e destrona Josias de Judá.... A ruína do Império Assírio permitiu que os caldeus [babilônios] estendessem o seu domínio à Síria e à Palestina.” – As Grandes Datas da Antigüidade, Portugal, Publicações Europa-América, 1984, p. 37.

13. "Em 612, Medos e Babilônios dirigiram-se a Nínive, que caiu depois de um cerco de três meses.... a resistência assíria parece ter acabado em 609 a.C. .... [Os egípcios] no ano 610 a.C. tinham ido em ajuda dos Assírios e, depois de derrotar e assassinar Josias, rei de Judá, em Meguido (609 a.C. aprox.) quando tentava fazer-lhe frente, estabeleceram-se em Carchemi. Em 605 a.C. os babilônios conseguiram expulsar os Egípcios." - Grandes Impérios e Civilizações - Mesopotâmia, Vol. II, Edições Del Prado, Rio de Janeiro, 1997, p. 198.

14. "609 a.C. - Babilônia aniquila o reino assírio e retoma a liderança política.... 539 a.C. - Babilônia sucumbe ao poder do império persa." - Revista História Viva, edição especial temática nº 6, Duetto Editorial, São Paulo, 2004, p. 7.

15. "O período Neo-Babilônio (Caldeu) (626-539 AEC). Nota: a conquista da Assíria pelos Caldeus (habitantes de mat Kaldu) em 609 AEC." - A Chronological History of Babylonian Astronomy, de Gary D. Thompson.

16. "Império Assírio: 746-609 a.C. ... Império Babilônio: 609-539 a.C." - Israel Science and Technology Homepage.

Observação:

Alguns escritores costumam dizer que a Assíria acabou em 625 a.C., porque foi nesse ano que sua capital, Nínive, foi conquistada e o império assírio começou a declinar. No entanto, rigorosamente falando, ele findou somente em 609, pois sobreviveu por mais três anos. A destruição de Nínive foi o prenúncio de que a Assíria estava chegando ao fim. Alguns também vêem esses três anos adicionais como um período de transição ou vácuo de poder.

C. Noções de Arqueoastronomia, Linguagem dos Diários Astronômicos e os Calendários

Movimento sideral e outros conceitos

Nos tempos antigos, os escribas babilônios tinham uma maneira própria de descrever os eventos astronômicos. Eles faziam descrições assim:

"A Lua apareceu atrás da [constelação de] Virgem no céu."

Esta forma de descrever tem a ver com a dinâmica de movimento dos corpos celestes. A impressão que se tem das estrelas se movendo durante a noite é devido ao movimento de rotação da Terra, em torno do próprio eixo. O sol "nasce" no leste e vai para oeste porque a Terra gira (inclinada) no sentido contrário, de oeste para leste. As estrelas e constelações também fazem este movimento relativo.

Apenas para ilustrar, imagine que em seu percurso o sol está "na frente" da Lua, então a Lua está "atrás" do sol, perdendo a "corrida" rumo ao horizonte, para se pôr no oeste. Neste caso, a Lua esta à leste. O mesmo leste de onde o sol saiu quando "nasceu". Por outro lado, se a Lua estivesse "na frente", então ela estaria à oeste, e chegaria primeiro ao poente. Frequentemente, esse foi o raciocínio usado pelos babilônios ao descrever a posição da Lua em relação às constelações. Observe o desenho abaixo, para visualizar melhor:

Eclíptica: linha imaginária que representa a trajetória da Terra ao redor do sol, num plano elíptico. Ela pode ser usada como referência ao se ver o "movimento" das constelações no céu.

Dependendo da época do ano, o nascer e pôr dos astros podem não ocorrer exatamente no leste e no oeste, respectivamente. Eles podem tender para as direções intermediárias indicadas no desenho acima. Isto acontece devido ao movimento de precessão da Terra, que está relacionado ao ângulo de 23,5º da Terra em relação ao plano da eclíptica.

Para posicionamentos na direção norte-sul não se leva em consideração o sentido de movimento. Se o diário babilônico diz que a Lua está "acima" de uma determinada constelação, ela realmente está acima, numa posição visualmente superior. O mesmo vale para quando se diz "abaixo".

Naturalmente, nem sempre a Lua está precisamente abaixo ou acima de uma determinada estrela. Ela pode estar um pouco mais para direita ou para esquerda. Por este motivo, no desenho acima foram indicadas as posições intermediárias: nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste. Assim, quando você for simular essas observações astronômicas em algum programa, leve essas pequenas variações em consideração, pois o escriba não é tão detalhista assim. Para exemplificar, se em algum modelo simulacional você notar que a Lua está à sudeste, isto significa apenas que ela está "abaixo". Mas essas peculiaridades não representam nenhum problema, pois, conforme a Sentinela mesma afirmou, as simulações lunares têm grande confiabilidade e permitem determinar a realidade do que aconteceu com grande precisão.

Continua...

O calendário em Babilônia

Em 2400 a.C., o calendário na Mesopotâmia era exclusivamente lunar, com doze meses de 30 dias (12 x 30 = 360 dias), na época dos sumérios. Em 2100 a.C., o calendário de Nippur adotou a sistemática de alternar entre meses cheios e vazados, de 30 e 29 dias, respectivamente, perfazendo um total de 354 ou 355 dias solares. No século 18 a.C., Babilônia adotou o calendário da cidade suméria de Nippur. Pela sistemática adotada, o primeiro dia do ano sempre começava próximo do equinócio vernal (da primavera), no dia em que o Sol nascia precedido pela constelação de Áries. O início de cada mês acontecia toda vez que a lua crescente podia ser vista pela primeira vez se pondo juntamente com o Sol, em conjunção, alguns dias depois da Lua Nova astronômica. Ou seja, o dia em Babilônia começava à tardinha, e não à meia-noite. Este era o costume dos povos semíticos, inclusive os hebreus.

Com o tempo, eles perceberam que as estações passaram a mudar de data no decorrer dos anos, causando alguns inconvenientes. Isto ocorria devido ao atraso do ano lunar em relação ao ano solar. Por esta razão, eles começaram a acrescentar meses adicionais no calendário, conforme a necessidade, para manter as estações sempre na mesma época do ano. Foi o surgimento do calendário lunissolar. Esses meses extras são chamados de intercalares. O acréscimo do mês intercalar (iti dirig, em babilônio) era feito de maneira completamente irregular, após qualquer mês do ano, baseando-se apenas na observação das estações. Somente em 541 a.C. houve uma padronização, mediante decreto real.

O período abrangido pelo diário astronômico VAT 4956 é anterior ao ano da padronização dos meses intercalares. Sendo assim, essa correção ainda ocorria a intervalos irregulares. No entanto, o acréscimo era feito sempre após o 6º ou o 12º mês, Ululu e Adaru, respectivamente. Estes meses intercalares eram chamados de Ululu 2 (VI2) e Adaru 2 (XII2). (Na Assíria, os meses intercalares, iti diir, em assírio, eram conhecidos por Elulu e Dararu).

Conforme indicam as tabelas de Parker & Dubberstein, publicadas em Babylonian Chronology, durante o reinado de Nabucodonosor, os meses intercalares foram acrescentados conforme mostrado abaixo:

Continua...

O calendário Juliano

Continua...

Sincronizando os calendários

Continua...

Onde:

I - Nisanu              III - Simanu             V - Abu                    VII - Tasritu                           IX - Quislimu         XI - Shabatu

II - Ayaru               IV - Duuzu               VI - Ululu               VIII - Arasamnu               X - Tebetu               XII - Adaru

Continua...

D. Respostas dos Eruditos Citados na Série "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?" (PDF, 1.20 Mb)

Escrevi para alguns eruditos* citados na série "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?", perguntando o que eles acham das conclusões publicadas na Sentinela (01/10/2011 e 01/11/2011), e a maneira que foram citados para desacreditar o ano 587 a.C. Embora haja uma nota na revista informando que "nenhum dos eruditos citados defende que Jerusalém foi destruída em 607 AEC", é interessante saber o que eles pensam porque o escritor da Sentinela tenta encontrar nesses especialistas alguma informação que venha a enfraquecer a data 587. Numa inversão de papéis, seria como se os eruditos estivessem ignorando informações em favor de um conceito errôneo pré-concebido.

Visto que esses acadêmicos podem estar sendo inundados com emails em virtude desses recentes artigos publicados pela Torre de Vigia, talvez nem todos se sintam dispostos a me responder. Mas os que derem algum retorno publicarei suas respostas aqui.

Para ver uma resposta, clique abaixo no link desejado. Para retornar a este ponto basta clicar no nome do erudito.

1. Ronald H. Sack

2. John M. Steele

3. David R. Brown

4. R. J. van der Spek

5. Peter J. Huber

6. F. R. Stephenson

7. David M. Willis

8. Annette Imhausen

9. Salvo De Meis

10. S. M. Burstein

11. Leo Depuydt

12. Christopher Walker

13. G. J. Toomer

* Ressalto que alguns importantes eruditos mencionados na revista A Sentinela não podem ser indagados sobre o assunto porque já morreram. É o caso de Raymond P. Dougherty e de Abraham J. Sachsª. Felizmente, este último foi entrevistado em 24 de junho de 1968 na Brown University, Rhode Island, por Raymond Franz, que havia sido encarregado pela Torre de Vigia para escrever o verbete "cronologia" da enciclopédia bíblica Ajuda ao Entendimento da Bíblia, em inglês (hoje conhecida por "Estudo Perspicaz das Escrituras"). O objetivo dessa entrevista era saber do Dr. Sachs se havia algum indício que favorecesse a data 607 a.C. para a destruição de Jerusalém. Raymond Franz relata em seu livro Crise de Consciência que Sachs deixou claro que não existe essa possibilidade. Franz depois se tornou membro do "Corpo Governante" das "Testemunhas de Jeová". - Crise de Consciência, 4ª edição, em inglês, p. 30 e comunicação particular mantida com o autor.

ª Dougherty é mencionado na nota 10 e Sachs nas páginas 26 e 27, e em algumas notas. - A Sentinela, 01/11/2011.

1. RONALD H. SACK

Em 12/10/11, escrevi o seguinte email para o Dr. Sack:

Olá, Dr. Sack

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica. Ela menciona que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para corroborar este ponto de vista você é citado algumas vezes, dentre outros eruditos. Veja um exemplo abaixo, na página 23 :

“O que os eruditos dizem? R. H. Sack, uma destacada autoridade em documentos cuneiformes, declara que as crônicas fornecem um registro incompleto de eventos importantes. Ele escreveu que os historiadores precisam recorrer a ‘fontes secundárias... na esperança de determinar o que realmente aconteceu’.

“O que os documentos mostram? Que há lacunas na história registrada nas crônicas babilônicas... Assim, é lógico perguntar: até que ponto as conclusões baseadas nesse registro tão incompleto são confiáveis?”

Então, eu pergunto: você concorda com a Torre de Vigia nessa aplicação que ela fez do seu trabalho? Existe realmente alguma possibilidade do ano 587 a.C. estar errado?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 13/10/2011 Dr. Sack me enviou a resposta abaixo:

Eu já respondi a muitos que têm feito esta pergunta. A Sentinela me deturpa inteiramente. A data para a destruição de Jerusalém é 587 a.C. O artigo da Sentinela não é assinado e é uma completa deturpação do meu trabalho. Marjorie Alley do Archaeological Institute of America tem corretamente me representado na sua página na Internet, onde ela cita corretamente meu livro Neriglissar - o Rei de Babilônia, pp. 25-26.


2. JOHN M. STEELE

Em 12/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Steele:

Olá Dr. Steele,

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 citou você algumas vezes em um artigo sobre cronologia neobabilônica. O autor da matéria menciona a tabuinha VAT 4956, e diz que sua informação astronômica pode ter sido elaborada por um cálculo retroativo. Em outras palavras, que as observações que ela contém foram calculadas e não observadas. Para apoiar tal ponto de vista você foi citado no artigo, na página 24:

“Mas poderiam os babilônios ter feito cálculos para trás no tempo a fim de saber quando os eclipses ocorreram? O professor universitário John Steele diz: ‘É possível que algumas das primeiras predições tenham sido feitas por meio de cálculos para trás na época em que o texto foi compilado.’ (O grifo é nosso.)”

Então, eu pergunto: a sua declaração acima realmente se aplica à VAT 4956?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

O Dr. Steele removeu o seu email do site da Universidade de Durham. Isto parece indicar que ele não deseja mais responder emails sobre o assunto publicado na Sentinela. Felizmente, o Dr. Steele já havia respondido a um email de semelhante teor que foi enviado por Marjorie Alley, que é do Archaeological Institute of America, segundo informou o Dr. Sack.

Em 02/09/2011, Alley recebeu a seguinte resposta de John Steele:

Prezada Senhora Alley,

Obrigado por seu e-mail sobre a citação de meu trabalho no artigo da Sentinela recente. Conforme você sugere, o autor desta peça está deturpando completamente o que eu escrevi, tanto no que eles dizem sobre as três medições lunares como no que eu digo sobre a possibilidade de retrocalcular os eclipses (meus comentários sobre os últimos foram restritos a um distinto e pequeno grupo de textos que são diferentes do Diário que estão discutindo). Só em passar a vista no artigo da Sentinela deu para perceber que eles também têm deturpado as opiniões de outros estudiosos através de citações seletivas fora do contexto.

Eu examinei a data da VAT 4956 em várias ocasiões e não vejo nenhuma possibilidade dela ser datada em outro ano que não seja a data convencional.

Atenciosamente,

John Steele


Disponível em Jehovahs-Witness.net

3. DAVID RODNEY BROWN

Em 13/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Brown:

Olá Dr. Brown,

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica. A revista menciona que as fontes que apoiam o ano 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para corroborar este ponto de vista, ela menciona o seu trabalho, dentre outros. Veja abaixo:

“O professor universitário David Brown, que acredita que as tabelas astronômicas incluíam predições feitas pouco antes dos eventos registrados, reconhece que é concebível que algumas delas fossem ‘cálculos retroativos realizados por escribas no quarto século a.C. ou em séculos posteriores’. Se esses cálculos forem retroativos, será que podem ser considerados absolutamente confiáveis sem que outras evidências os confirmem?” - pp. 24,25.

A Torre de Vigia diz que a VAT 4956 não é confiável pela razão acima, porque as observações na tabuinha foram calculadas e não observadas.

Então, eu pergunto: você concorda de alguma maneira com a aplicação que a Torre de Vigia fez do seu trabalho? Existe mesmo alguma possibilidade do ano 587 a.C. estar errado? Seria o ano 607 a data correta para a destruição de Jerusalém?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 13/10/2011 Dr. Brown respondeu:

Eu acho que já respondi essa questão. É que eu deixei o campo e não me preocupo mais com essas questões. Desejo-lhe sorte com seu trabalho, mas gostaria de lhe pedir que respeitem a minha privacidade.

Em virtude do conteúdo do email acima, posto aqui a minha resposta, enviada em 13/10/2011:

Grato por responder, Dr. Brown. Desculpe-me por incomodá-lo com este assunto. É que eu não sabia que você não trabalhava mais nesse campo. Eu vou tentar localizar a resposta que você deu sobre o que eu perguntei. Devo confessar que realmente eu não sei onde ela está publicada.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

4. R. J. (BERT) VAN DER SPEK

Em 13/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Bert van der Spek:

Olá Dr. van der Spek,

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica. Ela menciona que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para corroborar esse ponto de vista você é citado na página 25:

“Mesmo que um eclipse tenha ocorrido em certa data, será que isso significa que a informação histórica que o escritor da tabuinha atribuiu àquela data é exata? Não necessariamente. O erudito R. J. van der Spek explica: ‘Os compiladores eram astrólogos, não historiadores.’ Ao falar de partes de tabuinhas com registros históricos, ele as descreve como ‘mais ou menos casuais’, e alerta que esse tipo de informação histórica precisa ‘ser usada com cautela’.”

A Torre de Vigia diz que a VAT 4956 não é confiável pela razão acima, dentre outras.

Então, pergunto: você concorda de alguma maneira com a aplicação que a Torre de Vigia fez do seu trabalho? Existe mesmo alguma possibilidade do ano 587 a.C. estar errado? Seria o ano 607 a data correta para a destruição de Jerusalém?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 24/10/2011 Dr. Bert respondeu:

Prezado Sr. Medeiros,

Obrigado pelo seu email. Alguém na Holanda também me fez esta pergunta.

As citações de meu artigo estão corretas, porém fora do contexto. O que eu argumentei realmente é exatamente o oposto. Os estudiosos babilônios eram bons cientistas e fizeram registros precisos dos fenômenos celestes, que podem ser verificados pelos astrônomos modernos. A informação histórica dos diários astronômicos muitas vezes podem ser verificadas também com a ajuda de outras fontes e elas geralmente estão corretas. Isto é mostrado no restante do meu artigo, que pode ser visto no link abaixo:

The Astronomical Diaries as a source for Achaemenid and Seleucid History

O mesmo vale para as informações dos cronistas, que eram as mesmas pessoas, conforme eu argumentei na Referência de Stol Festschrift ao livro (embora não para o artigo), que você pode constatar no link abaixo:

Studies in Ancient Near Eastern World View and Society presente to Marten Stol on the occasion of his 65th birthday and his_retirement

Então, me atrevo a dizer que a informação da crônica ABC 5 rev. 12 mostra que Jerusalém foi tomada pela primeira vez em 2 de Adar, no sétimo ano de Nabucodonosor = 16 de março de 597 a.C. (no calendário juliano). A segunda deportação é datada para 587 e 586 a.C. Disto nós não temos evidências babilônicas, e a informação bíblica é ambígua*.

É claro que a informação histórica dos diários deve ser usada com cautela, como deve ser feito com todas as informações históricas. O interesse dos escribas babilônios era a coleta de informações do céu relacionadas com informações na Terra, e eles tinham especial interesse no destino do rei e nos eventos em Babilônia. E eles fizeram isto com uma precisão surpreendente. Os eventos de longe que eles apenas ouviram falar, estes eventos não podem ser datados com o mesmo grau de precisão dos eventos em Babilônia. Mas é categoricamente impossível retroagir os eventos em 20 anos. Como acontece tantas vezes neste tipo de argumentação: os autores encontraram apenas uns poucos textos com alguns problemas menores, e tentar resolvê-los criaria uma mudança substancial na cronologia aceita, criando então milhares de novos problemas, que eles não resolveriam (e nem poderiam resolver). A base documental para a cronologia tradicional é tão esmagadora que, na verdade, é uma perda de tempo discuti-la em grandes detalhes.

Meus cumprimentos,


Prof. Dr. R. J. (Bert) van der Spek
Professor de História Antiga da Universidade de Amsterdam
Departamento de Arqueologia, Clássicos e Estudos do Antigo Oriente Próximo

* Para saber a que ambiguidade bíblica o professor Bert se refere, entre neste link.

5. PETER J. HUBER

Em 14/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Huber:

Prezado Dr. Huber,

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis.

A revista também informa que a tabuleta VAT 4956 possui indícios de que o período neobabilônico foi 20 anos mais longo do que pensamos. Para corroborar esse ponto de vista o seu livro Babylonian Eclipse Observations From 750 BC to 1 BC é citado na p.28.

O seu trabalho fornece mesmo alguma pista para se chegar à conclusão acima?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 15/10/2011 Dr. Huber respondeu:

Caro Dr. Medeiros,

Eu não acho que o nosso livro fornece evidências para que a VAT 4956 tenha uma data anterior ao 37º ano de Nabucodonosor, muito pelo contrário! Ambos os eclipses, de 4 de julho de 568 a.C. e 15 de julho de 588 a.C., eram invisíveis em Babilônia (abaixo do horizonte), e o eclipse anterior, na verdade, é mencionado em um texto como ocorrendo no mês IV, ver Huber - De Meis, p.89. O fato é que entre os anos 2 e 42 de Nabucodonosor há pelo menos 15 eclipses lunares que foram observados, e eles concordam com a cronologia de Nabucodonosor geralmente aceita. Uma mudança de 20 anos é incompatível com estes eclipses.

O último tratamento completo da VAT 4956 esta em:

A. J. Sachs e H. Hunger, Diários Astronômicos e Textos Relacionados de Babilônia, vol. I, (1988), Viena, p.46-53.

Eu sempre achei que a data do texto foi fixada de maneira única por abundantes observações planetárias e lunar. Tanto quanto me lembro, isto foi constatado por P. V. Neugebauere e E. F. Weidner já em 1915. Eu nunca achei que fosse necessário eu mesmo fazer essa verificação.

Ao seu dispor,

Peter J. Huber

Prezado Sr. Medeiros,

Eu esqueci de elaborar minha afirmação "bastante pelo contrário!" Ao apontar que, entre os anos 2 e 42 de Nebukadnezar, há pelo menos 15 eclipses lunares observados, ver Huber e De Meis, e eles concordam com a cronologia geralmente aceita de Nebukadnezar. Uma mudança de 20 anos é incompatível com esses eclipses.

A seu dispor,

Peter J. Huber

6. F. R. STEPHENSON

Em 14/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Stephenson:

Olá, Dr. Stephenson

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga, e gostaria de saber a sua opinião a respeito de um assunto. Eu apreciaria muito a sua resposta.

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde menciona que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Além disso, a revista também informa que o diário astronômico VAT 4956 possui indícios de que o período neobabilônico foi 20 anos mais longo do que pensamos.

Ao introduzir o assunto acima, o seu artigo “The Earliest Datable Observation of the Aurora Borealis” é mencionado (conforme sabe, ele foi publicado em Under One Sky — Astronomy and Mathematics in the Ancient Near East).

Então, pergunto: visto que você é um especialista em arqueoastronomia, há alguma possibilidade desses antigos diários astronômicos apoiarem a matéria publicada na Sentinela?

Atenciosamente,

Adelmo Medeiros

Vide a resposta abaixo do Dr. Willis, que respondeu também em nome do Dr. Stephenson.

7. DAVID M. WILLIS

Em 14/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Willis:

Olá, Dr. Willis

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga, e gostaria de saber a sua opinião a respeito de um assunto. Eu apreciaria muito a sua resposta.

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde menciona que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Além disso, a revista também informa que o diário astronômico VAT 4956 possui indícios de que o período neobabilônico foi 20 anos mais longo do que pensamos.

Ao introduzir o assunto acima, o seu artigo “The Earliest Datable Observation of the Aurora Borealis” é mencionado (conforme sabe, ele foi publicado em Under One Sky — Astronomy and Mathematics in the Ancient Near East).

Então, pergunto: visto que você é um especialista em arqueoastronomia, há alguma possibilidade desses antigos diários astronômicos apoiarem a matéria publicada na Sentinela?

Atenciosamente,

Adelmo Medeiros

Em 18/10/2011 Dr. Willis respondeu:

Prezado Adelmo Medeiros,

Obrigado pela sua pergunta sobre o artigo da revista A Sentinela (1º de novembro de 2011). Outros pesquisadores também trouxeram atenção sobre este artigo ao Professor Richard Stephenson e a mim mesmo.

O Professor Richard Stephenson e eu acreditamos que a data apresentada em nosso artigo intitulado “As Antigas Observações Datáveis da Aurora Borealis” está correta.

.................................................... parte omitida temporariamente a pedido do emitente .............................................................

Com os melhores cumprimentos,

David Willis

8. ANNETTE IMHAUSEN

Em 14/10/2011 escrevi o seguinte email para a Dra. Imhausen:

Prezada Dra. Imhausen,

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga, e gostaria de saber a sua opinião a respeito de um assunto. Eu apreciaria muito a sua resposta.

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde menciona que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Além disso, a revista também informa que o diário astronômico VAT 4956 possui indícios de que o período neobabilônico foi 20 anos mais longo do que pensamos.

Ao introduzir o assunto acima, eles mencionam o artigo “The Earliest Datable Observation of the Aurora Borealis” que foi publicado na obra Astronomy and Mathematics in the Ancient Near East.

Então, visto que você foi editora da obra acima, pergunto:

Na sua opinião, existe mesmo alguma possibilidade dos antigos diários astronômicos apoiarem o que é defendido na Sentinela?

Atenciosamente,

Adelmo Medeiros

Não recebi resposta da Dra. Imhausen.

9. SALVO DE MEIS

Em 16/10/2011 escrevi o seguinte email para a Dra. De Meis:

Prezado Dr. De Meis,

A revista A Sentinela de 1º de novembro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis.

A revista também informa que a tabuinha VAT 4956 possui indícios de que o período neobabilônico foi 20 anos mais longo do que pensamos. Para corroborar esse ponto de vista o seu livro Babylonian Eclipse Observations From 750 BC to 1 BC é citado na p.28.

Então, eu pergunto:

Você acha que seu trabalho fornece mesmo alguma pista para se chegar à conclusão acima?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 18/10/2011 Dr. De Meis respondeu:

Prezado Dr. Adelmo,

No livro "Observações de Eclipses Babilônicos", Huber e eu não apoiamos uma mudança de 20 anos na cronologia.

O professor Hunger explicou que na transliteração da VAT 4956 não é mencionada "a lua", e ele é extremamente confiável.

Foi apenas um deslize na tradução, o que é perfeitamente possível, levando-se em consideração que ele publicou centenas de tabuinhas. Não foi uma falsificação.

Portanto, eu sugiro que você desconsidere essa [suposta] diferença de 20 anos.

Cordialmente,

Salvo De Meis

10. STANLEY M. BURSTEIN

Em 16/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Burstein:

Prezado Dr. Burstein,

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para apoiar este ponto de vista o seu livro é citado na página 29:

“Qual é a opinião de outros eruditos sobre Beroso? ‘No passado, Beroso era considerado historiador’, diz S. M. Burstein, que fez um estudo abrangente das obras de Beroso. Mas ele concluiu: ‘Considerando como tal, seu desempenho deve ser declarado inadequado. Mesmo levando em conta seu estado atual, incompleto, Babyloniaca contém uma série de erros surpreendentes sobre fatos simples... Para um historiador, esses erros comprometeriam o seu trabalho, mas o objetivo de Beroso não era histórico.’”

Então, eu pergunto: o seu livro realmente provê informações que nos levem à conclusão de que o ano 587 não se baseia em fontes confiáveis, sendo o livro de Beroso uma delas?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 16/10/2011 Dr. Burstein respondeu:

Caro Sr. Medeiros:

Obrigado pelo seu e-mail. Infelizmente, o artigo na Torre de Vigia é enganoso neste ponto. Enquanto Beroso claramente cometeu erros conforme observei no meu livro, seu relato sobre a captura de Jerusalém, se ele a discutiu, não sobreviveu [até os nossos dias]. Em outras palavras, não temos nenhuma evidência sobre que data ele pode ter atribuído a esse evento e sua obra atualmente em estado fragmentário não é relevante para a datação [da destruição de Jerusalém].

Sinceramente ao seu dispor,

Stanley Burstein

11. LEO DEPUYDT

Em 16/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Depuydt:

Prezado Dr. Depuydt,

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para apoiar este ponto de vista você é citado na página 30:

“ ‘Já por muito tempo se sabe que o Cânon é confiável no aspecto astronômico’, escreveu o professor universitário Leo Depuydt, um dos defensores mais entusiásticos de Ptolomeu, ‘mas isso não quer dizer que ele seja automaticamente confiável no aspecto histórico’.”

Então, eu pergunto: no seu artigo realmente existem informações que nos levem à conclusão de que o ano 587 não se baseia em fontes confiáveis, sendo o Cânon de Ptolomeu apenas uma delas?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Em 16/10/2011 Dr. Depuydt respondeu:

Prezado Sr. Medeiros,

Ao invés de responder diretamente, estou encaminhamento minha correspondência recente com alguém que fez uma pergunta similar [vide abaixo]. 607 AEC esta fora de questão como a data da destruição de Jerusalém e as evidências são sólidas.

Obrigado e meus cumprimentos,

Leo Depuydt

...

Prezado Sr. Korpela,

O Cânon está totalmente confirmado por muitas outras fontes, tais como os Diários Astronômicos de Babilônia. O ano 607 AEC está fora de questão para ser considerado a data da destruição de Jerusalém.

No meu artigo, eu estava advogando por uma comparação mais explícita do Cânon com textos cuneiformes. Eu declaro mais adiante no artigo que "o ‘de acordo’ parece ser a regra" quando se trata de fazer uma comparação entre o Cânon e o registro cuneiforme. Essa afirmação é baseada em parte no trabalho de Abraham Sachs e Hermann Hunger sobre os diários astronômicos.

Existem inúmeras sobreposições entre o Cânon e estes diários. Não há dúvida de que a prova poderia ser apresentada de forma mais explícita e de maneiras que fossem mais acessíveis aos leigos. Um problema é que muitos textos foram publicados há cerca de somente de 20 anos. Mas enquanto isso, desde que o meu artigo foi publicado, tem havido uma atenção mais explícita para o assunto (veja, por exemplo, todos os materiais publicados por Carl Olof Jonsson em http://kristenfrihet.se).

Muitas felicidades,

Leo Depuydt

P.S. Eu não tenho um scanner.


(Korpela é um leitor da Finlândia)

12. CHRISTOPHER B. WALKER

Em 16/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Walker:

Prezado Dr. Walker,

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para apoiar este ponto de vista o seu livro Mesopotamian and Iran in the Persian é citado na página 30:

“O canon de Ptolomeu era ‘um esquema artificial para fornecer aos astrônomos uma cronologia coerente’ e ‘não para fornecer aos historiadores um registro preciso da ascensão e morte de reis’.”

Então, eu pergunto: na sua tradução do Almagesto de Ptolomeu, realmente proveu informações que nos levem à conclusão de que o ano 587 não se baseia em fontes confiáveis, sendo o livro de Beroso uma delas?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e apreciaria receber sua resposta.

Obrigado,

Adelmo Medeiros

Não recebi resposta do Dr. Walker. Atualmente, ele está aposentado e não trabalha mais no Museu Britânico, conforme a pessoa que está agora em seu lugar me informou.

13. GERALD JAMES TOOMER

Em 17/10/2011 escrevi o seguinte email para o Dr. Toomer:

Prezado Dr. Toomer,

A revista A Sentinela de 1º de outubro de 2011 publicou um artigo sobre cronologia neobabilônica, onde afirma que as fontes que apoiam a data 587 a.C. para a destruição de Jerusalém não são confiáveis. Para apoiar este ponto de vista sua tradução do Almagesto é citada nas páginas 30 e 31:

“Ptolomeu explicou que por usar cálculos de astronomia, baseados em parte em eclipses, ‘conseguimos calcular para trás até o começo do reinado de Nabonassar’, o primeiro rei da lista.” – Almagesto, III, 7, traduzido por G. J. Toomer, 1998, p. 166.

Então, eu pergunto: você acha que o seu trabalho realmente fornece informações que nos levem à conclusão de que o ano 587 não se baseia em fontes confiáveis, sendo o Cânon de Ptolomeu apenas uma delas?

Eu sou um pesquisador brasileiro que escreve sobre história antiga e um dos tradutores oficiais para o português do livro "Tempos dos Gentios Reconsiderados" (que aborda cronologia neobabilônica), escrito por Carl Olof Jonsson, da Suécia.

Eu apreciaria receber a sua resposta, ainda que em poucas palavras.

Com meus melhores cumprimentos,

Adelmo Medeiros

Em 17 de Outubro de 2011 um professor emérito da Brown University me enviou um email informando que o Dr. Toomer já está aposentado e não atua mais na universidade.

E. Resposta a um Leitor - Referente à Série "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?"

Mantive uma rápida comunicação com um leitor que é da religião "Testemunha de Jeová". Tudo começou quando deixei uma mensagem no blog que ele possui onde cita os argumentos publicados na série de artigos da Sentinela intitulada "Quando a Jerusalém Antiga Foi Destruída?", que estão nas edições de outubro e novembro de 2011. Estes artigos dizem que Jerusalém foi destruída pelos babilônios em 607 a.C., ao passo que todos os livros de história dizem que foi em 587 (ou 586) a.C. Na qualidade de moderador, porém, ele não permitiu que o meu post aparecesse no referido blog. Ao invés disso, me enviou um e-mail reclamando da matéria que publiquei sobre os artigos supracitados da Sentinela.

Eu não tenho interesse em discutir essas informações com pessoas que pertencem à religião da Torre de Vigia ("Testemunhas de Jeová"). Por esta razão, decidi publicar nesta página a comunicação que tive com o leitor mencionado. Caso outros leitores com a mesma orientação religiosa queiram me escrever também, sugiro que leiam primeiro a minha resposta abaixo, pois não pretendo ficar respondendo e-mails dessa natureza.

De qualquer modo, no decorrer dos últimos anos, os e-mails que já recebi de leitores "TJs" são quase sempre muito parecidos. Eles possuem uma espécie de raciocínio coletivo "padronizado", com raras exceções:

1º) Dizem que não conheço bem o assunto tratado.

2º) Que a matéria que escrevi não tem nenhum fundamento.

3º) Que as "Testemunhas de Jeová" é que conhecem bem o que foi abordado.

4º) Não escrevem absolutamente nada que prove as três afirmações acima.

5º) Se escrevem alguma coisa, redigem textos confusos e com fracas explicações.

6º) Quando se vêem finalmente sem argumentos convincentes, recorrem à críticas ofensivas.

--- x ---

Em 30/09/11, postei o seguinte comentário no "blog" Tradução do Novo Mundo Defendida:

Olá!

Pelo que percebo nos comentários publicados em seu blog, parece que você passou apenas a vista nos argumentos a favor de 587 a.C., pois tal data realmente não causa essa destruição no entendimento dos relatos bíblicos que você mencionou. Já a data 607, por outro lado, trás alguns problemas. Por exemplo, a profecia bíblica diz que o rei de Babilônia só seria punido quando os 70 anos terminassem (Jer. 25:12). Vocês dizem que os 70 anos terminaram em 537. No entanto, o rei de Babilônia foi punido em 539, dois anos antes!, quando o rei persa Ciro marchou contra aquela cidade e destituiu o rei de Babilônia, matando-o naquele mesmo dia. Ou seja, aceitando-se a cronologia da Torre de Vigia, a profecia se cumpriu 2 anos antes do prazo.

Se quiser se aprofundar um pouco mais no tema, eu publiquei um comentário sobre esses artigos recém lançados da “Sentinela”, que pode ser visto neste link.

Tenho três amigos que são Testemunhas de Jeová PRATICANTES e de boa conduta e, devido a diversas conversas que tivemos nos últimos anos, eles chegaram à conclusão de que a data 607 AEC realmente está errada. Mas não querem sair da religião, pois sabemos como é difícil, devido aos vínculos criados lá…

Depois de enviada a mensagem, apareceu este aviso: "Seu comentário está aguardando moderação." E assim permaneceu até hoje...

Em 30/09/11, "Professor de Inglês hebraico e Grego, Friend" escreveu:

Me diz... além do equivoco que acha ter encontrado no ensino das TJ relativo ao ano da destruição de Jerusalém, o que mais acha que está equivocado na doutrina da organização das Testemunhas de Jeová?

Poderia me citar mais 3 exemplos ou mais

Aguardo sua resposta

Att

Rodolfo
*

* O nome foi trocado.

Em 30/09/11, respondi:

Olá!

Antes de responder, me diz só uma coisa: você leu a série de comentários que eu publiquei? Pois eu não gostaria de passar para outro assunto antes de concluir o primeiro. Mudança de foco dispersa o raciocínio e ficaríamos andando em círculos...

Um abraço,

--
Adelmo Medeiros

Em 01/10/11, "Professor de Inglês hebraico e Grego, Friend" escreveu:

Sabe quando as TJ conversam de casa em casa com as pessoas... observei há uns 25 anos atras e desde então, que mudar de assunto é justamente uma regra para os da Assembléia de Deus, batistas, Evangélicos e protestantes em geral. Tenho observado que evangélicos leigos, que não é o seu caso, mas infelizmente é o caso da maioria com seus cultos emocionais, não possuem capacidade para entender nem os ensinos básicos da bíblia. Nos últimos 20 anos tenho perguntado o que significa da palavra "evangelho" todo tempo a estes e se dentre 10 evangélicos ou protestantes uns 3 souberem responder esta pergunta, é MUITO!

Eu lí sim seus comentários, e observo que tem um espírito contencioso e antagonista em relação as TJ. Sua pesquisa é distorcida ao meu ver e cheia de equívocos e pressupostos que são equivocados. Sobre tais vc alicerça seus argumentos. Não acho legal continuar falando sobre um assunto profundo e longo uma vez que estou certo de que como a maioria dos seus correligionários vc não entende nem o básico. A menos que me mostre o contrário. Daí terei prazer em continuar este debate.

O volume de assunto e a profundidade de pesquisa envolvendo datas e acontecimentos relacionados com o ano de 607 é um terreno fértil para vcs fazerem justamente o que vc sugeriu que eu estaria fazendo. Usar de verbosidade em um assunto complexo e amplo é apenas uma estratégia. Não estou evitando falar sobre a data de 607, somente quero saber se vc se dedicou a este assunto na tentativa de usar de argumento e discurso prolixo carregado de enorme volume de material. O que superficialmente parece até plausível e bem pesquisado mas que , devido ao trabalho que se demanda para ter cada afirmação como fato comprobatório, pode acabar sendo aceito por alguns sem ser contestado.

Então por favor, me responde o que é o inferno , por exemplo. Daí poderemos prosseguir com o assunto sugerido

Att

Rodolfo

A seguir, a resposta que enviei em 01/10/11:

Olá Rodolfo,

Primeiramente, parabéns por ser professor de inglês, hebraico e grego. Eu também gosto desses idiomas, e já estudei os três. Na faculdade de Letras, além de grego, eu estudei o latim.

Bem, você está muito enganado sobre mim. Não tenho espírito contencioso. Detesto brigas. No entanto, uso de franqueza ao escrever, sempre tento encontrar o melhor embasamento possível e procuro não ser parcial. Além do mais, não me interessam os dogmas de qualquer religião. Para mim, todas têm aspectos negativos e positivos, inclusive as "Testemunhas de Jeová". É tanto que até já defendi vocês em alguns assuntos, e fui criticado por isso. Mas não tenho nenhuma ligação emocional e social com tal religião, ao contrário de você, por exemplo.

Você disse:

"Sua pesquisa [sobre cronologia neobabilônica] é distorcida ao meu ver e cheia de equívocos e pressupostos que são equivocados."

O certo seria você ter enumerado quais pontos você acha que estão equivocados e comentado o que você imagina ser o correto. Declarações genéricas assim normalmente são utilizadas por pessoas que perceberam algo de errado em sua crença, após lerem uma refutação a ela, mas não querem "dar o braço a torcer".

Mas não lhe condeno. É uma reação absolutamente normal, pois faz parte da natureza humana. Lembre-se que o apóstolo Paulo antes de aceitar Jesus Cristo perseguia os cristãos, achando que Deus não tinha nada a ver com o ensino deles, visto que os judeus é que são a descendência de Abraão, originalmente escolhidos por IHVH. Foi preciso que o próprio Cristo aparecesse para ele, para que abandonasse suas crenças preconceituosas. No entanto, visto que Jesus não irá aparecer para aqueles que forem teimosos em admitir a fragilidade do ensino sobre 607 AEC, restará para eles apenas a faculdade de raciocínio dada por Deus. Faço votos que você ou quaisquer outras "Testemunhas de Jeová" usem sabiamente esse presente do Criador, quando acessarem meus artigos sobre história neobabilônica.

Na verdade, eu não tenho interesse em discutir esse assunto com nenhuma "Testemunha de Jeová", pois, além de eu não ter o tempo necessário para isso, a Internet está repleta de boas informações para os pesquisadores dedicados, humildes e sinceros, conforme indiquei no comentário publicado em meu site. Fique à vontade para pesquisá-las.

Eu só escrevi essas considerações porque história antiga é um assunto que me interessa, e por não ter encontrado nenhum artigo com a resposta que a série da Sentinela merece (mas é certo que logo surgirão algumas refutações). Quando vi afirmações absurdas e insustentáveis nessas matérias, me senti na "obrigação" de escrever algo a respeito. Acredito que as pessoas que se interessam por "cronologia bíblica" acharão nos meus artigos algumas informações úteis. Eu comentei aspectos religiosos apenas porque foi necessário, para um melhor entendimento do assunto. Senão os leitores não-TJs poderiam ter dificuldade para perceber as nuances provindas do dogmatismo da Torre de Vigia, no que diz respeito ao objeto do estudo que publiquei.

Agora vai um conselho de amigo. Se você percebeu que realmente existe algo de errado com esse ensino da Torre de Vigia, prossiga estudando. Se aprofunde no assunto! Foi o que eu fiz. Não é vergonha para nenhuma "Testemunha de Jeová" reconhecer que foi enganada, e admitir que o ano 607 AEC nunca poderia ser a data correta para a destruição de Jerusalém. E há realmente pessoas que são da religião "Testemunhas de Jeová" que não acreditam mais na data 607. Por que, então, elas não largam essa religião? Laços de amizade, vínculos parentais, necessidade de se congregar num ambiente conhecido etc. Além disso, não querem se submeter ao ostracismo da política não cristã da desassociação. E note que essas pessoas não mudaram de opinião do dia para a noite. Quase sempre foi mediante um processo demorado, fruto de muita reflexão e estudo.

A tendência de muitas "Testemunhas de Jeová", quando encontram uma refutação de alto nível a uma de suas crenças, é lutar com "unhas e dentes" para provar a "falsidade" do ensino dos "apóstatas" e "opositores". Contrariando até mesmo orientações do núcleo central da religião, passam a publicar artigos a favor da Torre de Vigia. Isto é uma prova que os textos da Torre de Vigia não satisfazem nem mesmo seus seguidores, por isso eles se sentem impelidos a fazer o que ela não faz, isto é, tentar refutar os que falam dos ensinos dela.... Mas, aquelas pessoas que forem sinceras e realmente se aprofundarem nos assuntos, com certeza acabarão caindo em si e voltando às origens daquele Cristianismo simples do século I, que era quase que totalmente desprovido de dogmas. Entretanto, é claro que sempre existirão os teimosos que nunca darão "o braço a torcer", e continuarão sempre distorcendo os fatos para fazer a sua religião parecer o que ela realmente não é, uma religião sem dogmas ou mandados de homens... As "Testemunhas de Jeová" são campeãs absolutas nesses quesitos! (dogmas e mandamentos de homens).

Para concluir, reitero que não tenho interesse em ficar trocando e-mails sobre esse assunto. Continue pesquisando que, com o tempo, você terá elementos suficientes para decidir se sua crença está correta ou não. Por enquanto, você ainda está na fase da defesa "irracional". Pode ser que brevemente você passe para outro estágio, no qual não se preocupará prioritariamente em defender sua religião e raciocinará melhor sobre o que leu nos meus artigos.

A propósito, os anciãos da sua congregação sabem que você publica defesas a favor da Torre de Vigia? Talvez saiba que um certo Sebastião Ramos fazia o mesmo e foi desassociado por insistir nessa prática. Em seguida, ele denunciou o caso ao Ministério Público Federal e um processo judicial foi aberto contra a Torre de Vigia, por discriminação.

Felicidades!

Adelmo Medeiros

P.S.:

Inferno: palavra latina que equivale à palavra hebraica Seol e à grega Hades. Esses termos são usados para se referir ao lugar para onde vão os mortos, tantos os maus quanto os bons. - veja Lucas 16:19-31.

Em 17/10/11, "Professor de Inglês hebraico e Grego, Friend" escreveu:

Mais uma vez críticos das Testemunhas de Jeová falham em reconhecer que A CITAÇÃO feita pela revista A Sentinela de 1º de Novembro de 2011 (referente a discussão sobre a data de 607) conforme declarações feitas pelo Dr. Ronald H. Sack É CORRETA. Quanto a conclusão do autor das declarações, esta, não é a questão.

Se alguns acham que a Sentinela está inferindo que o autor das declarações acredita na data de 607 como sendo a data correta para a destruição de Jerusalém pelos Babilônios, eles estão cometendo um erro. O Dr. Ronald H. Sack diz que historiadores precisam recorrer a “fontes secundárias . . . na esperança de determinar o que realmente aconteceu” no que concerne a datas deduzidas a partir de documentos cuneiformes. Tal reconhecimento é relevante nesta discussão e foi apropriadamente citado pelas Testemunhas de Jeová. Os críticos do artigo de A Sentinela tomam essa declaração como se as TJ estivessem dizendo que o Dr. Ronald Sack estivesse apoiando as TJ em suas conclusões. Nenhum dos eruditos citados na revista defende que Jerusalém foi destruída em 607 AEC.

Eilat Mazar também é citada numa outra publicação das Testemunhas de Jeová, todavia, antagonistas das Testemunhas de Jeová tem fomentado confronto entre os Editores de A Sentinela e tais historiadores ou pesquisadores seculares por afirmarem ou repetirem na internet a falsa acusação de que tais estudiosos estão sendo "falsamente representados como alinhados com o pensamento da Watchtower" referente a data de 607 em detrimento de 587 A.E.C

Essa tática nos lembra muito bem a forma caluniosa com que os demônios são citados nas Escrituras.

Aqueles que são "acusador[es] de nossos irmãos [os quais nos] acusam dia e noite perante o nosso Deus". Apocalipse 12:10.

Sabemos que o reconhecimento do Dr. Ronald e por ele assinado é relevante demais para o assunto e não deve ser ignorado nesta discussão nem deliberadamente omitido assim como fazem os que defendem de modo insistente a inescriturística e antibíblica data de 587A.E.C

Sabemos também que citá-lo em seu reconhecimento de um fato é algo que obviamente o perturba, mas longe de ser uma distorção, citar seu reconhecimento demonstra a base fraca na qual é edificada o calculo secularmente aceito para a data da destruição de Jerusalém. Mencionar tais fatos é antes, uma evidência de honestidade e profundidade da analise feita pelas Testemunhas de Jeová.

O que muitos opositores ignoram no artigo de A Sentinela é o seguinte comentário feito (W 01/11/2011) *Nenhum dos eruditos citados defende que Jerusalém foi destruída em 607 AEC.

Pergunte-se por que omitem essa declaração clara feita no artigo?

Em 17/10/11, mandei o seguinte para esse leitor:

A observação a que você se refere no final, mencionada na revista, não foi omitida. Veja outra vez:... (neste link)

Novamente, você não disserta sobre nada. Não pondera o assunto. Não tenta provar o que diz. Faz apenas afirmações preconceituosas, e recorre a dogmatismo ofensivo. Mantém-se apegado à conclusões precipitadas.

Continue estudando...

--
Adelmo Medeiros

Nenhuma novidade no que a "Testemunha de Jeová" acima escreveu. Para ele, os que expõem as falhas cronológicas da Torre de Vigia se comportam que nem demônios e, como se não bastasse, ainda colocam os eruditos contra os editores da Sentinela.

Exatamente os seis pontos que eu falei no topo desta página...

 

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