O QUE A BÍBLIA REALMENTE ENSINA SOBRE A MORTE

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Salvo outra indicação, a Bíblia utilizada é a versão em português da Tradução do Novo Mundo de 1986, publicada pela Sociedade Torre de Vigia dos Estados Unidos.

SEÇÃO 1: O QUE DIZEM OS TEXTOS BÍBLICOS

SEÇÃO 2: O TESTEMUNHO DE ANTIGOS TEXTOS CRISTÃOS

SEÇÃO 3: O TESTEMUNHO DE ANTIGOS TEXTOS JUDAICOS

SEÇÃO 4: O SEOL NÃO É O MESMO QUE SEPULTURA

SEÇÃO 5: OS TEXTOS BÍBLICOS USADOS PARA APOIAR O ANIQUILACIONISMO

CONCLUSÃO E SUGESTÃO DE LEITURA

LEGENDA DAS TRADUÇÕES BÍBLICAS QUE FORAM UTILIZADAS

 

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O QUE DIZEM OS TEXTOS BÍBLICOS

1. O homem tem uma alma

“Almejei-te com a minha alma durante a noite; sim, com o meu espírito dentro de mim estou à procura de ti; porque, quando há julgamentos teus para a terra, os habitantes do solo produtivo certamente aprenderão a justiça”. – Isaías 26:9.

“E o resultado foi que, enquanto a sua alma partia (porque estava morrendo), ela chamou-o pelo nome de Ben-Oni; mas o seu pai chamou-o de Benjamim”. – Gênesis 35:18.

“E passou a estender-se três vezes sobre o menino e a clamar a Jeová, e a dizer: ‘Ó Jeová, meu Deus, por favor, faze a alma deste menino voltar para dentro dele.’ Jeová escutou finalmente a voz de Elias, de modo que a alma do menino voltou para dentro dele e este reviveu”. – 1 Reis 17:21-24.

“Não fiqueis temerosos dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. – Mateus 10:28.

“E agora se derramou a minha alma dentro de mim; apoderam-se de mim dias de tribulação”. – Jó 30:16.

“Por favor, fica de pé sobre mim e entrega-me definitivamente à morte, pois se apoderou de mim a cãibra, porque toda a minha alma está ainda em mim”. – 2 Samuel 1:9.

“O homem, nascido de mulher, é de vida curta e está empanturrado de agitação. Como a flor, ele brota e é cortado, e foge como a sombra*.... Apenas a sua própria carne, enquanto estiver nele, continuará a sentir dores, e a sua própria alma, enquanto estiver nele, continuará a prantear”. – Jó 14:1, 2, 22: compare com Lucas 12:18-21.

* Nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém sobre esse texto: “Ou o autor pretende dizer que esta sombra só pensa e sente pena por ela própria; ou então, que se lembra com saudade da sua existência carnal”. Tendo em mente essa passagem do livro de Jó, entende-se o motivo de alguns textos da Bíblia chamarem poeticamente as almas dos mortos de “sombras”, como é o caso dos dois últimos versículos citados mais adiante no ponto 3.

Um detalhe que alguns mencionam para ignorar o que os textos acima estão dizendo é que Gênesis 2:7 chama o homem de “alma vivente” e se o homem morre significa que a alma também morre. Antes do final há um comentário sobre esse pormenor.

 

2. Para onde a alma vai depois da morte

“Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”. – Salmo 16:10.

“Porque a tua benevolência é grande para comigo e livraste a minha alma do Seol, do seu lugar mais baixo”. – Salmo 86:13.

“Que varão vigoroso vive que não verá a morte? Pode ele pôr a sua alma a salvo da mão do Seol?”. – Salmo 89:48.

“Não retenhas a disciplina do mero rapaz. Não morrerá se lhe bateres com a vara. Tu mesmo lhe deves bater com a vara, para que livres a sua alma do próprio Seol”. – Provérbios 23:13, 14.

 

3. Onde fica o Seol e os que lá estão

“[Deus disse:] Eu te farei descer com os que estão na cova, ao povo de outrora, e te farei habitar a terra das profundezas”. – Ezequiel 26:20, colchetes acrescentados.

“[Deus disse:] Você já foi até as nascentes do mar, ou já passeou pelas obscuras profundezas do abismo? As portas da morte lhe foram mostradas? Você viu as portas das densas trevas?”. – Jó 38:16, 17, NVI, colchetes acrescentados.

“E Jeová prosseguiu falando mais a Acaz, dizendo: ‘Pede para ti um sinal da parte de Jeová, teu Deus, fazendo-o tão profundo como o Seol ou fazendo-o tão alto como as regiões superiores’.”. – Isaías 7:10, 11.

“Acaso podes descobrir as coisas profundas de Deus, ou podes descobrir o próprio limite do Todo-poderoso? [A sabedoria dele] é mais alta do que o céu. Que podes tu conseguir? É mais profunda do que o Seol”. – Jó 11:7, 8, colchetes acrescentados.

“Assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do enorme peixe, assim estará também o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra*”. – Mateus 12:40.

* A enciclopédia bíblica das Testemunhas de Jeová esclarece que a expressão “no coração da terra” significa “no centro da terra”, denotando assim um lugar extremamente profundo no interior do planeta. – Estudo Perspicaz das Escrituras, vol. 1, p. 556.

“Farás maravilhas pelos mortos? As sombras se levantarão para te louvar?” – Salmos 88:10, 11, EP.

“Despertai e cantai, vós os que habitais o pó, porque teu orvalho será orvalho luminoso, e a terra dará à luz sombras”. – Isaías 26:19.

 

4. O Seol não é um local de absoluta inatividade e inconsciência

“O SENHOR sabe o que acontece até mesmo no mundo dos mortos”. – Provérbios 15:11, NTLH.

Os mortos tremem de medo nas águas debaixo da terra”. – Jó 26:5, NTLH.

Quem dera que me escondesses no Seol, que me mantivesses secreto até que a tua ira recuasse, que me fixasses um limite de tempo e te lembrasses de mim! Morrendo o varão vigoroso, pode ele viver novamente? Esperarei todos os dias do meu trabalho compulsório, até vir a minha substituição. Tu chamarás e eu mesmo te responderei”. – Jó 14:13-15.

“Nas profundezas, o Xeol se agita por causa de ti, para vir ao teu encontro; para receber-te despertou os mortos, todos os potentados da terra, fez erguerem-se dos seus tronos todos os reis das nações”. – Isaías 14:9-11, 14, 15, BJ, texto sobre a morte do rei de Babilônia.

“Os principais homens dos poderosos falarão do meio do Seol até mesmo a ele, com os seus ajudantes”. – Ezequiel 32:21, 22, texto sobre a morte do rei do Egito.

Se dobre todo joelho dos no céu, e dos na terra, e dos debaixo do chão, e toda língua reconheça abertamente que Jesus Cristo é Senhor”. – Filipenses 2:10, 11.

“O SENHOR faz morrer e faz viver, faz descer ao Sheol e de lá voltar”. – 1 Samuel 2:6, TEB.

“A mulher perguntou: ‘A quem devo evocar?’ Ele respondeu: ‘Evoca-me Samuel’. A mulher viu Samuel e deu um grande grito.... O rei lhe disse: ‘Não tenhas medo. Que é que viste?’ A mulher respondeu a Saul: ‘Eu vi um deus que subia da terra’. Disse-lhe então: ‘Que aparência tem ele?’ Ela respondeu: ‘É um velho que vem subindo. Está envolto num manto’. Saul reconheceu então que era [o falecido] Samuel. Inclinou-se com a face por terra e se prostrou. Samuel disse a Saul: ‘Por que me perturbaste, fazendo-me subir?”. – 1 Samuel 28:11-15, TEB, colchetes acrescentados.

 

5. O Seol é um lugar sombrio e de provações

“Quão poucos são os meus dias! Que Deus termine e se afaste de mim, e terei um instante de alegria, antes de partir, sem retorno, para o país de trevas e sombras, para a terra escura e opaca, de confusão e negrume, onde a própria claridade é sombra”. – Jó 10:20-22, PER.

“Cercaram-me as cordas da morte e acharam-me as próprias circunstâncias aflitivas do Seol”. – Salmos 116:3.

“Na minha ira acendeu-se um fogo, e ele arderá até o Seol, o lugar mais baixo”. – Deuteronômio 32:22; compare com Salmos 21:8-11.

“A seca, bem como o calor, arrebatam as águas da neve; assim faz também o Seol com os que pecaram”. – Jó 24:19.

“O rico também morreu, e foi sepultado. No Seol*, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu Abraão de longe, e Lázaro no seu seio. Ele clamou e disse: ‘.... estou em angústia nestas chamas’.”. – Lucas 16:19-23, HNV.

* A palavra hebraica Seol foi traduzida em grego por Hades, um termo que já era usado na Grécia antiga para se referir ao mundo subterrâneo das almas dos mortos.

 

6. Os justos são poupados das provações do Seol

“Jeová é o meu Pastor. Nada me faltará. Ele me faz deitar em pastagens relvosas; conduz-me junto a lugares de descanso bem regados. Refrigera a minha alma. Guia-me nos trilhos da justiça por causa do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra tenebrosa, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; tua vara e teu bastão são as coisas que me consolam”. – Salmo 23:1-4, compare com Provérbios 23:13, 14.

“O justo tem esperança de uma vida melhor depois da morte”. – Provérbios 14:32, BV.

Felizes os mortos que morrem em união com o Senhor”. – Apocalipse 14:13.

“E aconteceu que o mendigo [Lázaro] morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu, e foi sepultado. No Seol, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu Abraão de longe, e Lázaro no seu seio”. – Lucas 16:22, 23, HNV.

 

7. A morte não significa a inexistência de quem morreu

“Mas, temos boa coragem e bem nos agradamos antes de ficar ausentes do corpo e de fazer o nosso lar com o Senhor”. – 2 Coríntios 5:8, 9.

“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia”. – 1 Tessaloninceses 4:14, BJ.

“É justo despertar-vos com as minhas admoestações, enquanto estou nesta tenda* terrena, sabendo que em breve hei de despojar-me dela. . . Assim farei tudo para que, depois da minha partida, vos lembreis sempre delas”. – 2 Pedro 1:13-15, BJ.

* “Tenda”, ou "tabernáculo", refere-se ao corpo físico, como atestam diversos comentaristas bíblicos. E a palavra “partida”, logo depois, é a tradução do grego exodon, que significa êxodo. Ela denota que Pedro se referia a uma mudança de domicílio, tal como o Êxodo dos antigos hebreus.

“Sinto-me num dilema: meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor, mas o permanecer na carne é mais necessário por vossa causa”. – Filipenses 1:21-23, BJ.

“E o resultado foi que, enquanto a sua alma partia (porque estava morrendo), ela chamou-o pelo nome de Ben-Oni; mas o seu pai chamou-o de Benjamim”. – Gênesis 35:18.

“Mas agora [Abraão, Isaque, Jacó e outros] desejam uma pátria melhor, isto é, a celeste. Por isso Deus não se dedigna de chamar-se o Deus deles, porque lhes preparou uma cidade”. – Hebreus 11:16, AN, colchetes acrescentados.

“Pois quando [Moisés] descreve como Deus lhe apareceu na sarça ardente, ele fala de Deus como ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’. Ele não é Deus de mortos, mas de vivos, pois para ele todos vivem”. – Lucas 20: 37, 38, NBV.

“Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais”. – João 11:26, TEB.

“Jesus respondeu [ao malfeitor arrependido na cruz]: Eu afirmo a você que isto é verdade: hoje você estará comigo no paraíso”. – Lucas 23:43, NTLH, colchetes acrescentados.

A morte é somente uma questão de perspectiva. Quem morre está morto apenas do ponto de vista dos homens, mas está vivo do ponto de vista de Deus, o único que pode ver o que transcorre no profundo e invisível Seol. – 1 Pedro 4:5, 6; Provérbios 15:11.

 

8. A existência depois da morte é espiritual e não física

“Tivemos como educadores nossos pais terrenos e lucramos disso um bom proveito, com mais razão não havemos de nos sujeitar ao pai dos espíritos e receber dele a vida?.... Mas vós vos aproximastes da montanha de Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, e das miríades de anjos em reunião festiva, e da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o juiz de todos e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição”. – Hebreus 12:9, 22, 23, TEB.

“Entregueis tal homem a Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”. – 1 Coríntios 5:5.

“Com efeito, também Cristo morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em prisão, a saber, aos que foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando Deus, em sua longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da água”. – 1 Pedro 3:18, 19, BJ.

“Estas pessoas prestarão contas àquele que está pronto para julgar os viventes e os mortos. Com este objetivo se declararam as boas novas também aos mortos, para que fossem julgados quanto à carne, do ponto de vista dos homens, mas vivessem quanto ao espírito, do ponto de vista de Deus”. – 1 Pedro 4:5, 6.

“Em pensamentos inquietantes das visões da noite, quando o sono profundo cai sobre os homens, veio sobre mim um pavor e um tremor, e encheu a multidão dos meus ossos de pavor. E mesmo um espírito passou sobre a minha face; o pêlo da minha carne começou a eriçar-se. Começou a parar, mas não reconheci seu aspecto; havia uma figura diante dos meus olhos; houve uma calmaria e eu ouvi então uma voz: ‘O homem mortal — pode ele ser mais justo do que o próprio Deus? Ou pode o varão vigoroso ser mais puro do que Aquele que o fez?’.”. – Jó 4:13-17.

“Caríssimos, não deis crédito a qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus”. – 1 João 4:1, TEB.

“Disse-me então: Estas palavras são certas e verídicas; o Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo, para mostrar a seus servos o que deve acontecer em breve”. – Apocalipse 22:6, TEB.

“Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as almas dos que haviam sido assassinados por causa da palavra de Deus e do testemunho que haviam dado. Gritavam com voz potente: Senhor santo e veraz, quando julgarás os habitantes da terra e vingarás nosso sangue?”. – Apocalipse 6:9, 10, PER.

“E eu vi tronos, e havia os que se assentavam neles, e foi-lhes dado poder para julgar. Sim, vi as almas dos executados com o machado, pelo testemunho que deram de Jesus e por terem falado a respeito de Deus”. – Apocalipse 20:4.

“E depois que o meu corpo estiver destruído e sem carne, verei a Deus. Eu o verei com os meus próprios olhos; eu mesmo, e não outro!”. – Jó 19:26, 27, NVI.

“É o espírito que é vivificante; a carne não é de nenhum proveito”. – João 6:63.

O homem físico não aceita as coisas do espírito de Deus, porque para ele são tolice; e ele não pode chegar a conhecê-las, porque são examinadas espiritualmente”. – 1 Coríntios 2:14, 15.

 

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O TESTEMUNHO DE ANTIGOS TEXTOS CRISTÃOS

“Exorto-vos pois todos a obedecer e exercitar toda a paciência, a que vistes com vossos olhos não somente nos bem-aventurados Inácio, Rufo e Zózimo, mas também em outros dos vossos, e no próprio Paulo e nos demais apóstolos, persuadidos que não correram em vão, mas na fé e na justiça, e que já estão no lugar que lhes é devido, junto ao Senhor, com a qual padeceram”. – Policarpo de Esmirna, discípulo do apóstolo João (69-155 d.C.), Pol. 9:12.

“Para resumir tudo em uma palavra – assim como a alma está no corpo, os cristãos estão no mundo. A alma está dispersa através de todos os membros do corpo, e os cristãos estão espalhados por todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mesmo assim não é do corpo; e os cristãos moram no mundo, mesmo assim não são do mundo. A alma invisível é guardada pelo corpo visível, e os cristãos são conhecidos por realmente estarem no mundo, mas sua piedade permanece invisível. A carne odeia a alma, e guerreia contra ela [conforme 1 Pedro 2:11], mas ela mesma não está sofrendo nenhuma injúria, porque está guardada de usufruir deleites; o mundo também odeia os cristãos, mas não é injuriado de volta, porque eles renunciam os deleites [mundanos]. A alma ama a carne que a odeia, e [ama também] os membros; da mesma maneira os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está aprisionada no corpo, mesmo assim preserva o corpo inteiro, e os cristãos estão confinados no mundo como que numa prisão, e mesmo assim eles preservam o mundo. A alma imortal vive em uma tenda mortal, e os cristãos vivem quais residentes forasteiros em [um mundo] corruptível, buscando alcançar uma morada incorruptível nos céus. A alma, até quando mal suprida com comida e bebida, se torna melhor; da mesma maneira, os cristãos mesmo sujeitos dia após dia a sofrimentos, crescem em número. Deus os tem encarregado desta posição ilustre, a qual era ilícito a eles abandonar”. – Matetes a Diogneto, cap. 6, século II d.C., colchetes acrescentados.

“Estamos convencidos de que quando formos removidos da vida atual viveremos outra vida”. – Atenágoras de Atenas, século II d.C.

“E que nossa alma sobrevive [à morte] eu já mostrei a você pelo fato de que a alma de Samuel foi chamada pela bruxa, conforme Saul solicitou”. – Justino, o Mártir, em Diálogo com Trifão, cap. 105, século II d.C., colchetes acrescentados.

 

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O TESTEMUNHO DE ANTIGOS TEXTOS JUDAICOS

“Então Saul morreu por causa de suas transgressões, as quais ele transgrediu contra Deus, contra a palavra do Senhor, porque ele não a manteve, porque Saul procurou o conselho de uma feiticeira, e Samuel, o profeta lhe respondeu”. – 1 Crônicas 10:13, Septuaginta Grega (1ª tradução da Bíblia Hebraica para o grego), século III a.C.

“Amado por seu Senhor, Samuel, profeta do Senhor, estabeleceu a realeza, e ungiu governantes sobre o seu povo. . . Mesmo depois de ter adormecido, profetizou ainda e anunciou ao rei o seu fim: do seio da terra elevou a voz, profetizando para apagar a iniquidade do povo”. – Eclesiástico 46: 13, 20, TEB, século II a.C.

“A vida dos justos está nas mãos de Deus, nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos pareceram mortos; sua partida foi tida como uma desgraça, sua viagem para longe de nós como um aniquilamento, mas eles estão em paz. Aos olhos humanos pareciam cumprir uma pena, mas sua esperança estava cheia de imortalidade”. – Sabedoria 3:1-4, BJ, século I d.C.

“Teus julgamentos são grandiosos e inexplicáveis, por isso as almas indóceis se extraviaram. . . Durante aquela noite deveras impotente, saída das profundezas do impotente abismo, enquanto dormiam o mesmo sono, ou os perseguiam monstruosos espectros, ou ao dar-se por vencidos ficavam paralisados, pois os invadiu repentino e inesperado medo. Assim, todo aquele que aí caía, quem quer que fosse, ficava encarcerado, recluso na masmorra sem barras. . . O mundo inteiro, iluminado por uma luz radiante, se entregava sem travas a suas tarefas; somente sobre eles se estendia uma noite pesada, imagem das trevas que iam recebê-los. Para si mesmos, eram mais pesados que as trevas”. – Sabedoria 17:1, 14, 15, 17, 20, 21, PER, século I d.C., colchetes acrescentados; compare com Provérbios 21:16.

“E ele me fez ascender das profundezas do Seol, e da boca da morte Ele me chamou”. – Odes de Salomão 29:4, século I d.C.

“Tão logo ele [Saul] a convenceu através deste juramento que não havia motivo para temor, ele pediu que ela [a necromante] fizesse subir a alma de Samuel. Ela, mesmo sem saber quem Samuel era, o convocou do Hades. Quando ele apareceu, e a mulher viu que era alguém muito venerável, e com divina forma, ela entrou em desordem. . . E quando ele [Saul] pediu a ela que dissesse qual era a sua aparência, em qual vestimenta apareceu, e que idade tinha, ela disse que era um homem já idoso, de figura gloriosa, e que tinha um manto sacerdotal. Então o rei descobriu por estas visões que era Samuel, e se prostrou em terra, prestando-lhe homenagem. E a alma de Samuel perguntou a ele o motivo de tê-lo perturbado e o feito subir. . .”. – Antiguidades Judaicas 6:327, de Flávio Josefo, século I d.C., colchetes acrescentados.

Os livros Eclesiástico e Sabedoria fazem parte da Bíblia Católica, e os antigos cristãos costumavam incluí-los em sua leitura, encarando-os também como textos sagrados.

 

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O SEOL NÃO É O MESMO QUE SEPULTURA

“Assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do enorme peixe, assim estará também o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra”.

Seol vem do hebraico e Hades é a palavra equivalente em grego. Às vezes os tradutores vertem ambas por “sepultura”. Fazem isso talvez para simplificar a leitura e evitar a abordagem teológica normalmente dispensada ao tema. No entanto, eles esclarecem em notas de rodapé que no texto original não está assim. Há muitas sepulturas, mas existe apenas um Seol. Por isso esta palavra só aparece no singular. Ao passo que o corpo é posto na sepultura, a alma desce para o Seol, caso não seja levada por Deus para o céu. Daí entende-se porque os israelitas que buscaram a necromante para tentar uma comunicação com o falecido Samuel não acharam que seria necessário estarem em cima do túmulo do profeta. Mesmo assim, a Bíblia diz que Samuel subiu, vindo do fundo da terra. – 1 Samuel 28; Eclesiástico 46: 13, 20.

É também por essa razão que Jesus Cristo disse que depois que morresse passaria três dias e três noites no coração da terra. O corpo de Jesus não esteve nas profundezas terrestres. Mas se Jesus disse que iria para lá, significa então que não seria com o seu corpo, mas sim com a sua alma. Isso demonstra que Seol é outro lugar distinto da sepultura. O corpo de Jesus ficou depositado em um sepulcro, acima do nível do solo. Ademais, passou apenas duas noites em tal lugar, e não três.

E a alma de Jesus? Ela também só passou duas noites no Seol? A Bíblia não possui uma afirmação direta sobre isso, porém dá uma pista que sugere que Jesus realmente ficou as três noites previstas, sendo a última noite já na condição de ressuscitado. Ou seja, de alguém falecido que ressurgiu fisicamente para as pessoas do nosso mundo.

Na manhã do terceiro dia após sua morte Jesus foi ressuscitado e iniciou uma série de aparições para os discípulos, aparentemente materializado em corpos diferentes daquele outrora visto por seus seguidores, visto que eles nunca o reconheciam quando ele aparecia. Na tarde do terceiro dia ele acompanhou determinados discípulos que estavam andando numa estrada e explicou para eles porque o Cristo havia de morrer e ser ressuscitado, de acordo com as profecias. Por conta disso, ao chegarem ao destino foi convidado por eles para uma refeição. Note agora um detalhe sobre esse episódio:

“Por fim chegaram perto da aldeia para a qual caminhavam, e ele fez como se fosse caminhar mais para diante. Mas eles exerceram pressão sobre ele, dizendo: ‘Fica conosco, porque já está anoitecendo e o dia já está declinando’. Em vista disso, entrou para ficar com eles. E, ao se recostar com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e começou a dar-lho. Com isso abriram-se-lhes plenamente os olhos e o reconheceram; e ele desapareceu de diante deles”. – Lucas 24:28-31.

Perceba que tão logo se iniciou a terceira noite desde a sua morte, Jesus simplesmente se desmaterializou na frente dos discípulos e desapareceu. Por que ele faria isso, justamente nesse horário específico do dia? Ora, ele tinha dito que passaria três noites no coração da Terra. Portanto, é razoável supor que Jesus voltou naquele momento para as profundezas do Seol, a fim de cumprir a profecia que ele dissera sobre si mesmo, de que passaria três noites lá e não apenas duas. Pode ter sido nessa terceira e última noite que aconteceu o que o apóstolo Pedro relatou em uma de suas cartas, conforme está transcrito a seguir:

“Com efeito, também Cristo morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em prisão, a saber, aos que foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando Deus, em sua longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da água”. – 1 Pedro 3:18, 19, BJ.

“Estas pessoas prestarão contas àquele que está pronto para julgar os viventes e os mortos. Com este objetivo se declararam as boas novas também aos mortos, para que fossem julgados quanto à carne, do ponto de vista dos homens, mas vivessem quanto ao espírito, do ponto de vista de Deus”. – 1 Pedro 4:5, 6.

Como se vê nos textos acima, Jesus fez uma pregação aos espíritos das pessoas que morreram no Dilúvio da época de Noé, que estavam aprisionados no Seol.* E o primeiro indica claramente que Jesus fez isso somente depois que ressuscitou.

* Às vezes a Bíblia intercambia as palavras “alma” e “espírito” como se fossem sinônimas uma da outra. Essa prática era muito comum em textos antigos, da mesma maneira que o é hoje em dia. Um exemplo de uma obra do passado que faz bastante isso, i. e., dizer que “espíritos” estão no Seol, ao invés de “almas”, é o Livro de Enoque. – Compare Lucas 8:54, 55 com Gênesis 35:18.

Há comentaristas bíblicos que não querem aceitar que Pedro estava falando das mesmíssimas pessoas nos capítulos 3 e 4 de sua carta. No entanto, é perfeitamente possível entender que sim, devido ao encadeamento de ideias apresentado nos textos, pois um capítulo é continuação do outro. Além disso, primitivos cristãos entendiam exatamente assim. Por exemplo, no final do século II, Clemente de Alexandria disse o seguinte:

“Cristo foi para o Hades em seu espírito para proclamar a mensagem da salvação para as almas dos pecadores que haviam sido presos lá desde o tempo do dilúvio”.

E Clemente foi mais além, ao dizer que os próprios apóstolos depois que morreram fizeram algo semelhante:

“Os apóstolos, seguindo o Senhor, evangelizaram também aqueles que se encontravam no Hades; evidentemente era necessário que os melhores discípulos se tornassem imitadores do Mestre também lá”. – Stromateis 6:6.

Já outros estudiosos da Bíblia acham que Jesus não somente pregou no Hades, mas também resgatou pessoas de lá, levando-as consigo quando foi para o céu. Eles chegam a essa conclusão com base no texto a seguir, que atribuem ao mesmo episódio mencionado por Pedro:

“Por isso que foi dito: ‘Quando ele [Jesus] subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros, e deu dons aos homens’. (Que significa ‘ele subiu’, senão que também havia descido às profundezas da terra?....)”. – Efésios 4:8, 9, NVI.

Mesmo não havendo unanimidade nessa última aplicação, há fortes indícios de que ela está correta, a começar pela menção que Paulo fez de prisioneiros, que era exatamente a situação descrita sobre aqueles espíritos das pessoas do mundo pré-diluviano no momento da descida de Jesus ao Seol. Além disso, não se tem notícias que Jesus tenha levado consigo seres humanos quando voltou para o céu. E Paulo diz claramente que ele levou pessoas com ele. Neste caso, pessoas em forma de almas ou espíritos.

Portanto, toda a consideração acima demonstra que Seol jamais poderá ser sinônimo de sepultura, pois na sepultura não podem ocorrer nenhum desses eventos relatados nos textos bíblicos e extrabíblicos aqui citados. Num sepulcro existe apenas um corpo sem vida, totalmente inerte, e que se encontra na superfície da Terra e não nas profundezas dela. O que demonstra que a parte do homem que vai para o Seol não é feita de matéria orgânica, mas de uma substância invisível, que não encontra nenhum obstáculo na estrutura física do planeta para chegar ao profundo domínio dos mortos.

 

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OS TEXTOS BÍBLICOS USADOS PARA APOIAR O ANIQUILACIONISMO

Um texto bíblico que alguns citam para repelir o fato de que a pessoa possui uma alma que sobrevive à morte é Gênesis 2:7, que chama o homem de “alma vivente”. O que levaria à conclusão que se o homem morre a alma também morre, conforme diz Ezequiel 18:4. Uma leitura superficial desses textos sem considerar o contexto global das Escrituras realmente induziria a tal conclusão. No entanto, os versículos bíblicos citados nas seções precedentes demonstram que esse ponto de vista não se sustenta.

Um pouco de exegese também ajuda a compreender melhor essa aparente dificuldade. Sabe-se que nos tempos antigos era comum os escritores se referirem às criaturas terrestres como “almas” e que essas “almas” morrem. Até mesmo os gregos faziam isso, mesmo sendo imortalistas por excelência. Veja dois exemplos:

As almas que morreram em combate são mais puras do que as que morrem de doenças”. – Fragmento 96b = B 136, de Heráclito.

Nenhuma alma generosa quererá depois de si um nome vil, por ter vivido vida indígena, manchando a boa fama apenas para não morrer”. – Electra, v. 785, de Sófocles.

Isso indica que se trata apenas da mesma palavra sendo usada com outra acepção*, mas que não anula a crença geral de todos os povos antigos de que o homem possui uma alma invisível, não sendo, portanto, apenas uma “alma vivente” carnal. Aquele texto de Jó já considerado exemplifica bem isso:

“O homem, nascido de mulher, é de vida curta e está empanturrado de agitação. Como a flor, ele brota e é cortado, e foge como a sombra.... Apenas a sua própria carne, enquanto estiver nele, continuará a sentir dores, e a sua própria alma, enquanto estiver nele, continuará a prantear”. – Jó 14:1, 2, 22: compare com Lucas 12:18-21.

* Exemplo semelhante ocorre no pseudo-epígrafo cristão O Segundo Livro de Adão e Eva. Um trecho dele diz: “Mas Adão foi o primeiro cuja alma morreu na terra do Éden” (10:7). Já outra passagem do mesmo livro afirma: “Então Jared chorou. . . . preferia que sua alma abandonasse seu corpo, a ouvir essas palavras de Deus sobre a descida de seus filhos da Montanha Sagrada” (20:36).

Pelo texto supracitado de Jó vemos que o homem possui uma alma que foge dele feito uma sombra por ocasião da morte. Ou seja, percebe-se que a “alma vivente” chamada homem possui outra “alma” dentro dela. Da mesma maneira que o homem tem uma carne, ou seja, o corpo físico que torna possível ele viver na Terra, ele também possui uma alma espiritual, que possibilita que ele continue existindo no Seol depois da morte do corpo. É precisamente por isso que Jesus disse que os cristãos não deveriam temer aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. – Mateus 10:28.

Nem mesmo a comparação que a Bíblia faz da morte com o sono implica na total inexistência de quem morreu, afinal, quem está dormindo continua vivo, ainda que num estado inconsciente. As atividades do homem não cessam completamente quando ele se deita para dormir:

“Porque Deus fala uma vez e duas vezes — embora não se repare nisso — num sonho, numa visão da noite, quando profundo sono cai sobre os homens durante os cochilos sobre a cama”. – Jó 33:14, 15.

Além disso, o apóstolo Paulo deixou claro que os cristãos que “dormissem” na morte continuariam vivos:

“Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo [na morte], vivamos unidos a ele.” – 1 Tessalonincenses 4:13, 14, 5:1-11, NVI, colchetes acrescentados.

A comparação da morte com o ato de dormir do corpo é absolutamente natural, pois quem morre descansa de suas obras terrenas, e ao vermos um corpo morto temos a exata impressão de que a pessoa está dormindo. – João 11:11-13; Apocalipse 14:13.

E quando vemos na Bíblia expressões do tipo fulano “deitou-se” ao se referir a alguém que morreu, numa clara alusão à ação de dormir, trata-se apenas de uma figura de linguagem. Ela não está advogando o conceito do aniquilacionismo ou extinção total de quem morreu. Os antigos povos semitas, entre eles os hebreus, não acreditavam nisso. É tanto que quando um hebreu morria em terra estrangeira e era enterrado lá, costumava-se dizer que ele ‘deitou-se com seus antepassados’ ou ‘foi ajuntado ao seu povo’. Se seu corpo ficava sozinho em algum cemitério estrangeiro, como seria possível o hebreu falecido ir para junto de seus antepassados? Simples. Não era o corpo dele que ia para a sua parentela falecida, mas a sua alma! – Gênesis 15:15; Números 20:24, 28; Deuteronômio 32:48-50, 34:5, 6; 2 Reis 8:24.

Da mesma maneira pode-se entender a expressão ‘os que retornam ao pó’, em referência aos que morreram. Embora em geral ela se refira aos corpos que foram enterrados, em sentido mais amplo é uma alusão à ida de quem morreu para o Seol, que fica nas profundas camadas subterrâneas do solo, ou seja, “no pó”. Essa ideia pode ser percebida nos textos abaixo:

“Meu poder secou-se como um caco, e faz-se a minha língua apegar-se às minhas gengivas; e tu me pões no pó da morte”. – Salmo 22:15.

“Todos vão para um só lugar. Todos eles vieram a ser do pó e todos eles retornam ao pó”. – Eclesiastes 3:20; compare com o Salmo 9:17 e Jó 17:16.

“Teus mortos viverão; seus corpos se levantarão. Acordem e cantem de alegria, moradores do pó, pois teu orvalho é um orvalho celestial, e a terra dará à luz os espíritos dos mortos”. – Isaías 26:19, LEB.

Por haver alguma semelhança da ida da alma para o Seol com um corpo colocado na sepultura, e os dois eventos estarem sempre ligados, a Bíblia às vezes menciona em um único texto as duas situações ao mesmo tempo. Isso tem confundido os leitores de mentalidade aniquilacionista ou materialista. Veja a seguir mais um exemplo, referente à morte do rei de Babilônia:

Nas profundezas, o Xeol se agita por causa de ti, para vir ao teu encontro; para receber-te despertou os mortos, todos os potentados da terra, fez erguerem-se dos seus tronos todos os reis das nações. Todos eles te interpelam e te dizem: ‘Então, também tu foste abatido como nós, acabaste igual a nós. O teu fausto foi precipitado no Xeol, juntamente com a música das tuas harpas. Sob o teu corpo os vermes formam um colchão, os bichos te cobrem como um cobertor.... [Tu dizias:] ‘Subirei acima das nuvens, tornar-me-ei semelhante ao Altíssimo’. E, contudo, foste precipitado ao Xeol, nas profundezas do abismo”. – Isaías 14:9-11, 14, 15, BJ.

Certamente o corpo mencionado que estava sendo consumido por vermes não se encontrava nas profundezas da Terra, mas estava em uma sepultura, muitos quilômetros acima. A alma do rei é que foi precipitada no Seol e recepcionada por seus moradores sombrios.

Esse texto também dá uma ideia sobre que tipo de “sono” é esse experimentado pelas almas dos mortos. Visto que o Seol é uma terra “de trevas e de caos”, onde “até mesmo a luz é escuridão”, seus habitantes são taciturnos e macambúzios. Por isso, não é surpresa que os monarcas desfigurados que já estavam lá tivessem que ser despertados e alertados da iminente chegada do rei de Babilônia. Isso demonstra que, mesmo dormindo ou cochilando, eles existiam de maneira consciente e não tinham sido extintos quando morreram. – Jó 10:20-22.

De igual maneira, tal cenário sombrio do mundo dos mortos ajuda a entender outros textos que têm sido incorretamente usados em favor do aniquilacionismo, a exemplo desses a seguir:

“Porque na morte não há menção de ti; no Seol, quem te elogiará?”. – Salmo 6:5.

“Os próprios mortos não louvam a Jah, nem quaisquer dos que descem ao silêncio”. – Salmo 115:17.

“Pois não é o Seol que te pode elogiar; a própria morte não te pode louvar. Os que descem ao poço não podem olhar esperançosamente para a tua veracidade”. – Isaías 38:18.

Os mortos foram privados das ações acima mencionadas. Faz parte de sua punição. Antes de irem para o Seol é que eles podiam fazer essas coisas, quais seres humanos. Mas depois da morte, o mundo que os esperava era aquele descrito por Jó:

“Afasta-te de mim, para que eu tenha um instante de alegria, antes que eu vá para o lugar do qual não há retorno, para a terra de sombras e densas trevas, para a terra tenebrosa como a noite, terra de trevas e de caos, onde até mesmo a luz é escuridão”. – Jó 10:20-22, NVI.

É sob tal perspectiva que aqueles textos de Eclesiastes, frequentemente citados por aniquilacionistas, devem ser compreendidos, a exemplo desse a seguir:

“Tudo o que a tua mão possa fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, porque não região dos mortos para onde vais, não há nem trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria”. – Eclesiastes 9:10, MC.

O texto não está dizendo que as pessoas que morreram deixaram de existir. Mas apenas que as atividades às quais outrora se dedicavam e as sensações próprias delas não serão revividas no Seol. Eram características próprias da existência humana. Por isso o referido texto pode muito bem ser entendido conforme a sugestão abaixo posta entre colchetes:

“Tudo o que a tua mão possa fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, porque não região dos mortos para onde vais, não há nem trabalho [humano], nem ciência [humana], nem inteligência [humana], nem sabedoria [humana]”.

Outro aspecto que é bom destacar é o entendimento sobre esse assunto no decorrer da linha do tempo. Ele refletia sempre o estágio da fé que os do povo de Deus se encontravam. Gradualmente eles foram esclarecidos sobre detalhes que antes eram desconhecidos, no que diz respeito ao destino dos mortos.

No Velho Testamento há uma visão pessimista e sombria sobre a morte. A ênfase dada em alguns versículos à inatividade dos mortos e o desinteresse deles pelas coisas da Terra é um reflexo desse quadro. Embora já houvesse textos que sinalizavam um destino diferente para os justos, foi somente na época de Jesus que isso ganhou destaque, tanto nos textos bíblicos quanto nos extrabíblicos.* Um exemplo é o conceito judaico sobre o “Seol dos patriarcas”, também conhecido como “Seio de Abraão”, mencionado por Jesus em uma de suas ilustrações. Tal lugar era vislumbrado como uma espécie de oásis encravado no deserto causticante do Seol e destinado apenas aos justos que seriam recebidos por Abraão. – Lucas 16:19-31.

* No tempo dos apóstolos a Bíblia ainda não existia. Só depois é que líderes de destaque do Judaísmo e do Catolicismo decidiram o que faria parte do livro que veio a ser conhecido pelo nome de “Bíblia Sagrada”.

Sendo assim, aqueles textos sobre pessoas justas serem livradas do Seol podem não se referir apenas a uma ação de Deus para livrá-las da morte, afinal cedo ou tarde todos morrem. Pode ser uma alusão ao fato de que os justos são poupados das circunstâncias aflitivas do vale da morte. Por isso o jovem ao ser ‘disciplinado com a vara’ livraria sua alma do Seol. – Provérbios 23:13, 14.

Semelhante perspectiva os primeiros escritores cristãos tiveram quando escreveram declarações como essas a seguir. Eles não achavam que depois da morte iriam para um lugar caótico e sombrio:

“Mas, temos boa coragem e bem nos agradamos antes de ficar ausentes do corpo e de fazer o nosso lar com o Senhor”. – 2 Coríntios 5:8, 9.

“Sinto-me num dilema: meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor, mas o permanecer na carne é mais necessário por vossa causa”. – Filipenses 1:21-23, BJ.

“[Os falecidos Inácio, Rufo e Zózimo] já estão no lugar que lhes é devido, junto ao Senhor”. – Policarpo de Esmirna, colchetes acrescentados.

“Estamos convencidos de que quando formos removidos da vida atual viveremos outra vida”. – Atenágoras de Atenas.

Pelo mesmo motivo os apóstolos disseram com absoluta naturalidade o que está transcrito abaixo, durante o episódio da transfiguração:

“Jesus tomou a Pedro, e a Tiago, e a João, e os levou a sós a um alto monte.... Apareceu-lhes também Elias com Moisés, e estes estavam conversando com Jesus. E, como resposta, Pedro disse a Jesus: ‘Rabi, é excelente que estejamos aqui; armemos, pois, três tendas, uma para ti, e uma para Moisés, e uma para Elias’.”. – Marcos 9:2-5.

Em nenhum momento eles duvidaram que ali fossem realmente Moisés e Elias. Reação bem diferente da que teria um aniquilacionista caso se deparasse com alguém que já morreu vestido com roupa cintilante e conversando com outra pessoa sobre algum assunto, não é mesmo?

 

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CONCLUSÃO E SUGESTÃO DE LEITURA

Naturalmente, muito mais poderia ser dito sobre esse assunto. O que discorri aqui é apenas uma síntese. Caso você queira fazer um exame mais detalhado dele, sugiro a leitura dos textos abaixo, também de minha autoria:

A filosofia grega influenciou mesmo o conceito do Cristianismo sobre imortalidade?

O que ensinaram os escritores cristãos do segundo século?

Obras Teológicas e de Referência Apoiam o Aniquilacionismo?

Onde ficava o Jardim do Éden?

Sobre o Aniquilacionismo e a Imortalidade da Alma

 

LEGENDA DAS TRADUÇÕES BÍBLICAS QUE FORAM UTILIZADAS

AN – Álvaro Negromonte

BJ – Bíblia de Jerusalém

BV – A Bíblia Viva

EP – Edição Pastoral

HNV – Hebrew Names Version

LEB – Lexham English Bible

MC – Missionários Capuchinhos

NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje

NBV – A Nova Bíblia Viva

NVI – Nova Versão Internacional

PER – Bíblia do Peregrino

TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia

Fortaleza, 27 de julho de 2016

Autor: Adelmo Medeiros.

 

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